São tantas emoções…

São tantas emoções…

23 de junho de 2015 1 Por Daniel Campbell

D117, estamos quase chegando no D120 aonde terei um pouco mais de liberdade para algumas coisas. Hemograma veio bom com hemoglobinas subindo lentamente, leucócitos em 3,9 mil e plaquetas querendo voltar a subir, dessa vez sem o remédio do vírus apenas com o vidaza a medula foi menos maltratada e está bem. Tive uma gripe essa semana que me deixou meio quietinho e tirou um pouco do meu apetite. E para um pós transplantado qualquer coisinha é tempestade em copo d’agua, preocupação já vem de todos os lados. Até normal pela delicadeza do meu sistema imunológico atual.

Não lembro se foi ontem ou hoje que escutei em um filme a frase: “A vida é curta, mas existem dias longos demais”. Nesses 2 anos tive muitos dias longos demais. Uns excelentes como meu ano novo de 2013 para 2014 que achei que a vida estava me sorrindo com uma nova oportunidade. Foi um dia ótimo, surfei contra a vontade da minha médica que só deixava eu surfar depois que estivesse bem fisicamente. Passei a virada com meus pais e vários amigos que foram criados lá com a gente. Mas também tiveram dias longos demais que sofri por diversos motivos, mentalmente os dias dos diagnósticos foram com certeza os piores.

Durante o tratamento sempre foi muito difícil separar o racional do emocional. Sempre fui bem fechado para expor meus sentimentos e acredito que a maioria saiba. Sempre tentei deixar minha mente em ordem, por mais complicado que fosse pelas coisas que iam surgindo dia a dia, sempre quis ter essa consciência e tentar controlar ela. No início, isso era fundamental para mim. Não queria envolver ninguém na doença e não queria me envolver emocionalmente com ninguém. Não digo de relação homem e mulher, mas de pessoas. Já bastava ver o sofrimento de quem estava a minha volta, por mim. Esse sentimento de amar que vem do inconsciente deixa a gente fora de ordem e a mente vira um caos. Sentir emoções, no início, era algo descontrolado, só que depois de tantos longos dias entendi a necessidade desse caos. Basta um não interferir o outro.

Sempre misturei muito o racional com o emocional. Parar e me observar nesses dias sem fim me fizeram perceber que sou ansioso. Por mais que não pareça, sou. No início do câncer deixei bloqueado esse lado emotivo. Sempre projetei e criei muita expectativa como todo mundo pelos outros. Talvez bloquear essas emoções dizendo que eu era uma ilha, como já disse um tempo atrás (alguns devem lembrar) tivesse sido errado. Hoje ainda crio expectativas e projeto coisas, não só com pessoas mas com a vida também só que consigo filtrar um pouco essas emoções. Um exemplo? Visitas… Quantos falaram que iriam me visitar, marcaram de sair quando meus minutos de vida eram sagrados pois não sabia o dia de amanhã e me deram bolo?

No início isso me abalava, ficava triste (puto, chateado, raiva rs) esperando por alguém que nunca chegava (acho que minha mãe tem pena de tanto furo). Mas criou um bloqueio para não sentir esse tipo de emoção. Mas não só esse exemplo ruim, quando as pessoas me visitavam também sentia um certo incomodo em receber o carinho, por não querer deixar ninguém se “aproximar” demais pois não sabia o que estaria por vir na manhã seguinte. Não sabia me comportar, pois não queria que ninguém sofresse por aquilo. Só que ao mesmo tempo me fazia bem, rolava um conflito interno de emoções.

Com o passar do tempo a gente vai aprendendo a se comportar diante tais emoções e pensamentos. Começa a filtrar e ser mais consciente sobre eles. Passa a poder escolher qual agrega ou não. Não que eu seja consciente de tudo que eu pense e nem que eu pense apenas de forma racional só que a partir disso que abri mão de me chatear pelos bolos e furos (afinal todos vivem e tem seus compromissos também). Soube aceitar as emoções negativas e deixar elas se dissiparem de uma forma mais suave. E tudo que me agregou sentimentos bons e se aprofundou de certa forma em mim levei como uma virtude. Foram realizações que só aprendi graças a dias longos, tendo o tempo para mim. Isso tem ajudado a aceitar minha realidade. Sempre tem um que diz: “não conseguiria passar uma semana no seu lugar”. Mas quando a gente para, olha e não tem para aonde correr a gente olha para dentro e vai tentando acertar aonde está errado. Ainda tenho muito que acertar. Mas acho interessante termos nosso banco de horas de paz, como já falei antes. Ir atrás desse equilíbrio.

“As emoções não podem durar para sempre. É por isso que elas se chamam ‘emoções’. A palavra vem de ‘moção’. Elas se movem; daí serem emoções. Você vive passando de emoção em emoção”. Achei essa explicação perfeita, mas se você preferir outra: “Na vida tudo passa até uva passa”. Então acredito estar indo pelo caminho certo.

Um informe curto (principalmente para o pessoal do rio), renatinho, que passou por um problema parecido está fazendo uma campanha e levando grupos ao INCA. Caso você tenha medo de agulha o pessoal segura a sua mão, caso você tenha dúvida sobre a doação o pessoal tem explicação. Eles estão montando grupos de diversos lugares para irem doar. Se tiverem interesse e quiserem maiores informações para se juntarem e irem doar avise, faça sinal de fumaça, telegrama, email, inbox. A ideia é bem legal para esclarecer qualquer dúvida que ainda exista. E o pessoal que vai passou por isso, então é legal para trocar conhecimentos.

(Aqui é para os fortes que leram 1000 letras)

Ah! Isso não foi uma indireta para quem prometeu que me visitaria e não foi! Prometo! Entendo que vários tem diversos motivos.

 

http://www.tmo.org.br/

www.ameo.org.br

 

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