D932 “Quero apenas viver enquanto estiver vivo”
Prezados (as), semana passada estive em SP para procedimento de rotina de manutenção do cateter, exame de sangue e consulta com os médicos. Passei primeiro no ortopedista com as imagens dos fêmures. A velha história do “tá ruim mas tá bom” continua com algumas ressalvas interessantes. Querem a boa notícia ou a notícia esperada primeiro? Vamos começar pela esperada que daí a última impressão é a que fica. O fêmur esquerdo, tadinho, continua sendo o mesmo fêmur necrosado de sempre. Engraçado que nunca fiz medicina e acredito que se fizesse jamais faria ortopedia pois olho aquelas imagens e para mim são iguais. Só que dessa vez o esquerdo está ruinzinho. Sei que já estava ruim mas dessa vez eu enxerguei que o quadril não está mais tão esférico como deveria ser e nas bordas parece estar mais gasto. O ortopedista está feliz pelas dores constantes serem completamente suportáveis. Os picos de dor que acontecem as vezes não é uma preocupação, para elas tomo um remédio e está resolvido. Mas o fêmur esquerdo está bem judiado. Agora a notícia boa! O fêmur direito está ótimo! Para quem não lembra o direito tinha grandes chances de recuperação e o esquerdo já estava meio que condenado mesmo. Então mais vale um no quadril do que duas pernas mancas.
Passando para as novidades do hemato. Exame de sangue tudo nos conformes. Sem muita coisa para contar. Ele está bem feliz com a melhora da rejeição da medula na pele. A coceira está bem discreta. Sempre tenho uma dúvida quando vou nele. A pergunta sempre é quando poderei ir a praia. Sei que a resposta é não, mas vai que…7
Já estamos juntos nesse processo há algum tempo, né? E acho que estou começando a me acostumar com esse bando de mudanças em um tempo tão curto. Até ontem eu tinha uma vida como a de todo mundo aonde nunca esperamos ficar doente dessa forma na flor da idade. Mas não existe um roteiro para nossa vida. A primeira vista tudo parece um inferno e as ideias se confundem e não sabemos a quem recorrer ou o que será de nós depois que vira tudo de cabeça para baixo.
Hoje falo com tranquilidade, mas demorou um tempo para eu digerir a doença que me assombrou por um longo tempo. Aprendi a aceitar. Foi custoso aceitar a nova condição. Não é fácil ter a consciência que o fundo do poço chegou. Só que fiquei durante tanto tempo no fundo do poço que aprendi que o fundo não era o fim. Talvez um novo começo. Aprendi a olhar com novos olhos aquele momento de escuridão. Cada feixe de luz que vinha lá do alto do poço era muito valorizado. E eles vinham de diversas formas. Internado tenho umas centenas que lembro de imediato… As maritacas me acordando pela manhã. A grosseria carinhosa do Joaquim ao abrir minha cortina logo pela manhã para ver o Sol subindo me lembrando que estava ali para ver mais um dia…
Sempre dei muito valor as coisas belas da vida. Fui daqueles que levava o termo Carpe diem (google para quem não sabe hehe) a sério. Sempre olhei muito ao meu redor o quão belo o mundo é e quantas coisas boas ele nos trouxe e nos traz a cada dia. E lá no fundo do poço esses momentos eram em menores quantidades. E com isso tudo passei a olhar um pouco para mim. Passei a entender que eu não precisava das coisas bela da vida para entender que a vida é bela. Como todos já estão acostumados com minhas frases prontas e ditados não poderia escrever sem trazer uma que hoje em dia faz um sentido absurdo e quando é dita acho que a maioria não tem noção da real dimensão dela. “O que importa é estar vivo” fez o fundo do poço ter outro clima. Muitos me diziam essa frase e “água mole pedra dura…”.
Aprender a estar ali e a apreciar o que havia para ser apreciado no momento nos fez sobreviver. Como um bom biólogo sei que só sobrevive o melhor adaptado. E para a mente sobreviver a situações como essas precisamos nos adaptar as novas condições.
Seja como for, é um privilégio estar vivo. “A única coisa que não muda no mundo é a própria mudança”.
Hoje vou fugir da música de costume. Vamos variar para um poema… (música embaixo do poema)
Para quem não conhece é o Braulio que vai no encontros (Poesia com rapadura).
Para não reclamarem que não teve música vamos entrar no clima do Rock in Rio:
Sem revisão
Bem estamos bem como vc mês.o disse melhor um do que nada