D873 “bff”
Prezados (as),
A pele de jacaré continua por aqui para eu lixar minhas unhas. O tratamento de “puva” (com luz ultravioleta) está caminhando a passos de formiga, mas da para notar discretas melhoras. As lesões estão ficando mais planas e a coceira parece ser menos intensa do que o de costume. Escrevo sem pensar muito, né? Acho que vocês estão acostumados com minha metralhadora de palavras e confesso que ri sozinho aqui quando escrevi o “de costume”. Até com isso a gente se acostuma. E acho que se acostumar é a ideia desse tratamento pelo que a dermatologista me explicou. O objetivo de tratar com esse método de bronzeamento artificial é fazer meu corpo criar uma tolerância a rejeição da medula. Esses dias até escutei de um amigo: “olha o rejeitado chegando”. Criando essa tolerância não precisarei de mais corticoides ou imunossupressores para acalmar a medula.
Ainda não comentei, mas para auxiliar o hidratante junto com o remédico a penetrar na pele estou me emplastificando todo dia. Durante o dia se estou de calças emplastifico as pernas e a noite estamos testando emplastificar o tronco, mas acho que minha barriga faz o plástico enrolar para cima. Fica parecendo um tomará que caia de insulfilm. O destino não está colaborando com meu sex appeal (minha sensualidade). Meu pai virou meu estilista de todas as manhãs e dos pós banhos do fim de tarde. É, só tomo um banho por dia (orientação da dermato para não desidratar ainda mais a pele).
Como sempre paro muito para pensar nas situações que a vida me proporciona. E geralmente faço uma analise dessas situações comigo mesmo. Algumas delas gosto de trazer para vocês. E uma delas é que se eu perguntar hoje quem é seu melhor amigo? Talvez o pensamento não seja tão rápido e provavelmente para muitos irá surgir dúvida sobre uma resposta.
É até de certa forma compreensível a confusão em função dessa vida cheia de relações e likes (acho que naquelas montagens do facebook ele nunca chegou na minha conclusão). Mas em quantos de vocês passaram na cabeça em responder “meus pais”?
Sei que não sou perfeito e longe de mim querer ser. E sei que estou longe de ser o melhor amigo deles. Precisei de 4 anos com 3 canceres e uma osteonecrose bilateral e um gvhd (rejeição da medula) e 37 pneumonias para entender que eles são meus melhores amigos.
Que meus amigos não fiquem com ciúmes até porque não podem ter ciúmes. Não são menores por não serem os melhores e sempre terão um valor único cada um dos amigos. Mas pai é pai e mãe é mãe. Amigos temos mais de um e ainda assim também são únicos, abençoado quem tem muitos…
Retornando há dois parágrafos atrás, sempre fui bem retraído e agora rejeitado (individuo com gvhd). Nunca soube expressar meu carinho, admiração, afeto, ou qualquer coisa do gênero pelos outros (e isso serve para todos ao meu redor). E aonde quero chegar? Estou tentando dizer que por mais defeitos que eu tenha, eu sei reconhecer hoje que mesmo não sendo o melhor amigo deles, eles sempre serão meus amigos.
Independente da cagada que eu arrume, seja um câncer, um dedo queimado com pólvora na festa junina, um nariz encatarrado, uma boca aberta depois de cair de bicicleta, uma alergia a transfusão de plaquetas… eles sempre estarão ali antes de eu pestanejar.
E no próximo abraço (aproveitei que vocês não estão em casa para escrever), saiba que eu amo vocês demais, mesmo não expressando gratidão da melhor forma que deveria aos meus primeiros melhores amigos.
Uma confissão: muitas das vezes que prendi as lágrimas foi escutando essa música, nem sempre resisti Música mais escutada na ponte aérea… vale a essência da música apesar de ter fugido um pouco do rock
Repetida? acho que sim
Sem revisão para variar