D859 “Como um louco eu até sorri…

Bom dia meus amigos!

Vamos as notícias… A pele continua bem irritada por conta da rejeição (já expliquei que é algo bom, né?) Algumas partes melhoraram enquanto outras pioraram. Como a barriga representa uma grande porcentagem do meu pequeno corpo e ela está melhorando em breve o resto deve melhorar também. A gente começa a olhar os nossos problemas e vamos criando teorias. Minha nova teoria é que a mão está pior agora pois passo hidratante com remédio no corpo inteiro, contudo a mão lavo com frequência, seja com sabão ou álcool gel. Vou fazer uma experiência tirando o álcool gel de vez pois resseca a pele demais.

Esses dias fiquei pensando sobre os problemas que eu tive e tenho nessa vida. Acredito que todos temos problemas. E para explicar minha definição de problema (independente do tamanho e peso da cruz) pedi ajuda para o meu amigo google. Então achei essa definição para problema: “transtornos que exigem grande esforço e determinação para ser solucionado”. E então podemos concluir que todos temos algum incomodo na vida que demande um pouco da nossa determinação. Sempre adorei a frase que “só tem problema quem está vivo”, seja um problema da vida ou um problema matemático. Minha unha encravada é um problemão quando preciso colocar sapato e dividir a conta no bar as 3:00 am por 7 pessoas também nos demanda um esforço e determinação para solucionar a conta. Aceitei que os problemas sempre irão existir. Seja quais forem…

Mas nesses 4 anos de tratamento aprendi a diferenciar problemas de preocupações. Indo ao google novamente achei algo legal como definição: “ideia fixa e antecipada que perturba o espírito a pondo de produzir sofrimento”.

Durante o meu primeiro solitário dia do diagnóstico da leucemia no cti, digerindo meus problemas e preocupações daquele momento uma médica entrou no meu leito e me explicou o que eu estava tendo mais detalhadamente. Lembro dela dizer: “Calma que de câncer você não vai morrer”. Sempre levei essa frase comigo. Médica magrinha e minúscula, mas tinha um sorriso imenso que me passou uma tranquilidade. Ela veio a ser minha oncologista durante todo meu tratamento no Rio. Também ouvia muito de um amigo internado que a gente vai morrer de qualquer coisa menos de câncer, espero que esteja tudo bem meu camarada, sempre na torcida!

Sim, foi muito difícil trabalhar essa aceitação. Fazer o câncer se transformar apenas em problema e não em preocupação. Aceitamos nosso problema, mas nunca deixamos de ter a determinação em solucionar esse problema.

Sim, era um câncer. Sim, era um p. problema. Hesitei em alguns momentos sim. Acredito que poucos momentos tive medo. Mas foram poucos momentos para refletir e entender que fraquejar não iria mudar minha situação. Assim a preocupação foi ficando de lado.

4  anos se passaram e aqui estou… cheio de problemas!  Me tornando especialista em festejar cada conquista. Em festejar cada problema solucionado. Alguns acham estranho celebrar os 4 anos de diagnostico do câncer. Mas se for mais fácil de compreender, podemos celebrar os 3 anos da “pega” do primeiro transplante que foi no mesmo dia.

Prefiro comemorar o dia do diagnóstico. Antes esse dia era visto como o dia que minha vida parou. Hoje vejo como o dia em que minha vida mudou. Mudou e me deu a chance de ter motivos todo dia para celebrar cada dia novo. Me deu a chance de possuir vários sangues do meu sangue. Ou seria meu sangue do sangue de vocês que me doaram? Enfim, hoje irei celebrar talvez um dos dias mais alegres de uma pessoa que esteve ao meu lado sem estar do meu lado o tempo todo. Sempre serei grato ao meu doador de plaqueta que sempre esteve ali.

Celebrarei sempre essa mudança na minha vida, esse divisor de águas . “Há males na vida que vem para o bem”. E esse mal me transformou. Obrigado por 863 dias de vida a mais, todos foram responsáveis de alguma forma para chegar aqui. O apoio incondicional dos meus pais, do meu irmão, da família, dos amigos (inclui toda a equipe que cuidou de mim com carinho durante esse tempo todo), desconhecidos. O primeiro pedaço do bolo desse aniversário iria para cada um de vocês que nunca deixaram a cruz cair. Obrigado por fazerem valer a pena cada minuto desses 4 anos, valeram muito a pena cada minuto… da mais profunda dor até as boas e sinceras risadas que tivemos. Obrigado por me ensinarem que só temos uma vida e precisamos fazer valer todos esses momentos, seja quais forem, por todos esses momentos únicos!

Não consigo imaginar de verdade outro rumo para minha vida. Talvez tivesse seguido com aquela vida e tivesse pisado numa casca de banana e caído do telhado. Não lamento a mudança. Agradeço apenas a chance de estar por aqui com vocês. Talvez não saiba ainda demonstrar tanta gratidão fora desses textos, mas um dia aprendo.

dia 9/7/2013… que dia

“Não chorei, como um louco até sorri… mas no fundo só eu sei das angústias que senti”.

Sem revisão para variar rs…. A foto é antiga!