D803 Lares Doces Lares

D803 Lares Doces Lares

9 de maio de 2017 0 Por Daniel Campbell

Cheguei em Arraial disposto a retomar a rotina que deixei por aqui quando viajei para São Paulo. Estava até com sono e pensei em abortar a volta de bicicleta de fim de tarde. Na última semana já havia alcançado os 10km. Mas resolvi deixar a preguiça de lado, algo bem atípico, pois costumo ser o rei em procrastinar (um defeito que estou melhorando, até comprei uma agenda para datas simbólicas). Voltando ao passeio de bike, peguei a garrafinha d’água e uma muleta só e fui bem devagar como sempre. É incrível como o pôr do sol em Arraial transforma o visual da cidade. Às vezes até entendo a ideia dos mulçumanos em orar logo após o espetáculo do fim da tarde. Talvez seja algo até que deveríamos “roubar” para nossos costumes, seja para o Deus que for ou apenas para agradecer por mais um dia.

(Para quem não conhece aqui, tentarei explicar sem me prolongar)

Comecei pela Praia dos Anjos que é logo ali da minha casa. O Sol já estava raiando deixando as nuvens naquele tom vermelho para rosa e o reflexo na água fazendo os barcos encostados na marina brilharem. Entrei na rua do Guga logo ao final da praia e ele já estava naquele laranja deixando o céu bem amarelado. Já estava há dois dedos para encostar nos telhados do final da rua. Andei mais rápido para chegar na Praia Grande e, ao chegar lá, lá estava ele. Ainda um pouco alto mas com umas nuvens que já diziam que ele não iria se despedir mergulhando.

Em alguns minutos ele já estava dizendo adeus começando a se esconder atrás das nuvens, mas um buraco entre elas deixou ele voltar para um último adeus e só deixou sua claridade para o pessoal que estava surfando naquele fim de tarde agradável (não me ofereçam uma prancha caso me vejam por lá, já estou programando molhar os pés).

Fiquei sentado do lado da Flavia Alessandra (tem uma estátua dela aqui) durante esses minutos pensando o quanto é bom estar em casa. Aquela respirada profunda de satisfação de poder pensar que finalmente cheguei. Aquela sensação que temos ao sentar no sofá, tirar o tênis e colocar o pé na mesinha da sala e relaxar.

O estranho é que nessa vida de nômade que passei a ter com meus pais consigo colocar meus pés na mesinha da sala de tantos lugares. A pergunta “aonde você mora?” é sempre uma longa história. E essa sensação de lar em todos os lugares pode parecer estranha para quem está acostumado a criar raízes. Mas preferi plantar sementes…

Quando dizem das coisas simples da vida, o pôr do sol me faz sentir em casa, me faz estar em paz no meu lar, na minha casa, na minha mente. Acho que hoje eu sei porque queria os quartos com pôr do sol (antes que perguntem: o nascer do sol também seria lindo se fosse as 18:00).

Não estou tentando convencer ninguém a virar mulçumano, mas, por que não fazer do pôr do sol de cada dia um momento para pensar sobre como estamos encaminhando nossa vida? Já perdi as contas de durante quantos pores do sol parei para refletir na vida e cada um tem sua beleza única para iluminar nosso momento do dia.

Tenho meus lugares especiais de pôr do sol em cada lugar que morei. Até do Samaritano eu tinha… suíte presidencial 814, sentado na poltrona. Na proa do Navio “Cook” com Lu, Leo, Ju e Patrick. No Rio, a mureta da Urca já é quintal. Hoje o desafio para quem leu tudo é: Qual é o pôr do sol que você considera seu lar?

A música de hoje não tem uma relação direta com o post mas é boa para escutar com um pôr do sol…