D793 pq tudo acaba em pizza…
Caros,
Lembram da minha última internação por conta da falta de ar? Pois bem… ainda por conta dela tomo corticoides. Agora apenas 5mg, talvez por isso as dores nas juntas que eu estava sentindo a ponto de tomar um remédio mais fortinho para dor começaram a desaparecer. Só o fêmur que ainda está um pouco sensível (nada muito diferente do normal). Em relação ao câncer tudo em ordem! Dia 4 estarei indo para SP, não estranhem. Irei apenas para consulta e lavar o cateter. Contudo devo prolongar minha viagem um pouquinho para matar a saudade de SP.
Quem diria?! “Logo quem, logo eu, olha só, ó.” Sim, saudades talvez porque fui muito feliz durante meu tratamento. E consegui dividir essa alegria com tanta gente nova, com tantas novas amizades. Hoje irei enumerar minhas aventuras que tornaram meus momentos mais alegres mesmo nos dias nublados. (Para quem me conhece bem sou meio esquecido, tentarei escrever o TOP 3, se não ficar muito grande irei para o TOP 5. Mas se um momento não estiver aqui não faz dele menos importante, sou esquecido).
Acredito que os momentos internados sejam os mais interessantes. Então vou tentar recordar mais deles.
Com certeza o auge foi a pizza que pedimos internado para jogar truco no corredor. Conheci durante a internação 3 pacientes e seus agregados. Acredito que se fossemos 7 seríamos comparados aos anões pois cada um tinha seu jeito diferente de ser. Mesmo os 3 tendo a mesma profissão possuem identidades únicas, acho que sou sempre o único biólogo em todo lugar que eu vou. Nos conhecemos durantes as sessões de música como terapia em grupo. Eu achava interessante essa ideia de interação mas parecia uma sessão de Alcóolatras Anônimos. Já volto a falar sobre eles.
Tivemos a sorte (ou benção se preferir) de termos o mesmo médico. Ou pelo menos da mesma família de médicos senão me falha a memória. E graças a isso foi mais fácil do médico liberar nossa “jogatina”. Não lembro exatamente quem desceu para comprar a pizza dos acompanhantes na padaria em frente ao hospital. A coca-cola foi cortesia da nutrição. Sentamos numa mesa redonda no corredor do café e começamos a jogar. A gargalhava rolava. Doente? Quem estava doente ali? Acho que ninguém pensou sobre isso. Estávamos em 8 acho entre pacientes e acompanhantes.
Perdemos a noção da hora, até hoje não sei dizer ao certo quanto tempo foi. A enfermeira vinha a cada minuto para conferir se estávamos bem, acho que rolou um intervalo para trocar o medicamento. Não erámos os 7 anões mas erámos 4 carecas andando com um suporte carregado de soros e remédios. Entramos para o quarto tarde da noite. Perto de virar abóbora talvez.
Todos os 3 se tornaram excelente amigos. Cada um com sua maneira peculiar de ser. Poderia falar de um momento com cada um de alegria ou de boas gargalhadas, mas estou achando que o post vai ficar muito longo. Ri sozinho aqui ao recordar. Um dia quando alguém me lembrar eu conto.
O que ganhei com o câncer? A chance de ser feliz mesmo em dias nublados. A oportunidade de conhecer pessoas que por terem sido pacientes como fui me entendem um pouco mais. Com eles aprendi a me colocar no lugar do outro. Principalmente quando o assunto era mucosite e dores absurdas. Nossos únicos pedidos eram para que as dores deles passassem a ponto de esquecer o nosso próprio problema ali. Esse sentimento que desenvolvemos de pegar a dor do outro para nós mesmo e querer tanto que ele fique bem nos traz uma paz. E hoje ver todos tão bem é motivo de sobra para saber que por menor que tenha sido a influência dos meus pedidos valeu a pena cada pensamento positivo.
Como havia dito o post já está ficando grande. Quem sabe em um livro caiba tudo. Os outros momentos felizes do Top 5 e o momento com os 3 mosqueteiros deixo para um próximo post.
“Sem a chuva não existiria arco-íris”.
Obs1: Meus revisores não trabalham sábado.
Obs2: A música de hoje que não poderia faltar. Escutem como se no início fosse uma conversa com nossos problemas (no nosso caso nossa ex… a leucemia)