D774 – Fim!

D774 – Fim!

10 de abril de 2017 6 Por Daniel Campbell

 

Caros,

Como a maioria já sabe, minha químio terminou na sexta. Foi uma semana ótima, repleta de pessoas queridas! Não deu para ver todo mundo! Passei os 5 dias da químio com um amigo de internação que ajudou a descontrair esse clima de adeus. Tive uns probleminhas com o corticoide mas está tudo bem. “Tá ruim, mas tá bom”
Para quem me cobrou a falta do post do último dia de químioterapia foi devido à correria dessa semana. Gosto de escrever quando estou em paz pois os pensamentos ficam mais claros sobre o momento de agora. Por isso fui adiando e aqui estamos.

Fiquei em paz vendo o sol indo embora aqui do avião enquanto voltava para o Rio nessa segunda-feira. Com a sensação de dever cumprido. Aprendi que não fui um vencedor porque terminei o meu tratamento, mas por nunca ter desistido de viver. Isso cumpri direitinho.

Voltando para a casa agora está um pôr-do-sol lindo. Me fez lembrar daquele quarto 814, nossa suíte presidencial com vista para perdizes. Ficava sentado ali no sofá, com aquela cor de indiano que alguns testemunharam. Mesmo ali, naquela situação nunca deixei de desfrutar aqueles pores-do-sol que me lembravam tanto a paz que eu tinha nos embarques do trabalho. Aquela solitude toda, me sentindo em paz comigo mesmo.

Hoje estou aqui, desfrutando mais um pôr-do-sol. Dizendo adeus para essa nuvem que foi passageira por muito tempo na minha vida, mas que nunca me impediu de desfrutar os momentos que essa nova vida me trouxe. Ou talvez, a nuvem tenha me ensinado a desfrutar ainda mais momentos como este.

Foram duras as batalhas, acho que só minha mãe e meu pai que se internaram comigo tem a noção do que eu vivi nesses últimos 4 anos. Viramos irmãos siameses e ainda de quebra levei a medula do meu pai. Tive medo sim em vários momentos, mas a esperança fazia ele ficar de lado. E aprendi a aceitar tudo aquilo que estava acontecendo. E nessa hora que entregamos nossa sorte ao destino. Não nos entregamos mas aprendemos a entender que “o que tiver que ser será”.

Ainda converso muito sobre a doença. Sobre minha história e como levei tudo dessa forma suave. Aprendi e me policiei muito para levar dessa forma pois nunca quis trazer preocupação para ninguém. Inocência minha achar que ter câncer não traria preocupação para ninguém. Mas busquei nesses anos passar as coisas boas que a doença me trouxe. As ruins passariam com o tempo.

Ainda me questionam muito sobre essa vivência que tivemos. Sobre essa lição de vida, aprendizado, amadurecimento ou como prefiram chamar. Gosto de conversar sobre isso por incrível que pareça. Tenho histórias impublicáveis sobre minha vida além da leucemia.

Óbvio que hoje em dia é fácil dizer que passaria por tudo de novo pois estou aqui vivo para contar. Minha balança ficou no positivo mesmo tendo artrose, rejeição (gvhd), pneumonias e sinusites incontáveis. Afinal só tem problema quem está vivo. E estar aqui vivo com vocês não existe balança que fique negativa. Mas sim, passaria por tudo de novo. Cada lição que foi agregada a minha vida nesse caminho difícil fez tudo valer a pena. Valeu a pena a história. Cada minuto, cada aventura, cada dia de vida para estar aqui… hoje.

Sem revisão hehe 🙂