D731 E se eu morrer amanhã?

27 de fevereiro de 2017 0 Por Daniel Campbell

D731

Bom dia amigos! Vamos aos fatos… Estou meio ruinzinho do pulmão com uma tosse chatinha mas já estou devidamente medicado. Às vezes acho que esses sustos surgem para lembrar o quanto ainda estou nesse momento frágil da nova vida. O fêmur continua naquela dor natural de sempre. Doeu bem esses dias mas já voltou a dor normal.

Sempre inventei o que comemorar a cada dia que passou. Sempre recusei a frase “Não pode ser…” e sempre preferi não chorar pelo leite derramado. Mas hoje (durante a festa da carne) não é um dia qualquer. É o dia em que a leucemia virou passado. Completando dois anos sem câncer (26/2/2015). Os dias de cão acabaram…

Foram anos de muitas batalhas vividas e vencidas que a maioria de vocês esteve por aqui acompanhando e torcendo! Foram muitas lições aprendidas durante esse trajeto e muitas pedras retiradas do caminho. Anos que merecem ser agradecidos por eu ainda estar por aqui.

Hoje estou experimentando tudo que colhi durante esses longos anos. Registrei cada momento importante e compartilhei tudo o que pude (só os bons momentos, claro). Sempre quis manter essa comunhão com quem quis estar por perto. Sei que criamos uma conexão. Uma nova conexão com quem eu não conhecia e estreitamos os laços com os conhecidos. E aprendi a valorizar um pouco mais a importância dessas relações. Um dia a morte vai chegar, nós sabemos. Se chegar estou aprendendo a fazer valer a pena cada novo dia antes dela.

Talvez a mais importante lição durante tantos dias internado tenha sido fugir da preguiça do apego. Já comentei um dia sobre essa experiência de vivenciar a morte diversas vezes. E essa experiência nos faz cair a ficha que podemos morrer hoje. Paramos de nos iludir achando que “um dia iremos morrer”. Sempre imaginamos que a morte não chegará tão cedo e vivemos adiando o que realmente nos é importante. Ao não se iludir com isso, passamos a valorizar cada minuto pois nunca saberemos se haverá um próximo. Sei que alguns dos amigos (ex) internados compartilham desse pensamento. E talvez por saber que amanhã podemos morrer, os problemas deixam de ser problemas (ou pelo menos não são tão valorizados). Passamos a encarar os problemas e colocar eles na balança. “Vale a pena gastar energia com isso se a morte chegar amanhã?” Então deixamos a maioria dos problemas de lado. Afinal, “o que não tem remédio remediado está”.

Viver esperando a morte pode parecer ser algo meio sombrio ou até triste. E quando entendemos isso no início sentimos um desespero como em senti vários momentos. O medo toma conta da gente de uma tal maneira que não existe explicação. Não estava pronto para morrer naquele momento (e ainda não estou). Mas quando a gente para e encaixa as peças que a vida vai dando, passamos a ser grato por todo fim e recomeço que a vida proporciona. A sensação de morte todo dia chegou ao fim. Já não gasto minha energia mais com esse medo constante. Mas o aprendizado ficou. E hoje, dois anos sem câncer e sem complicações graves o foco da minha vida mudou um pouquinho. Aprendi a celebrar muito mais do que lamentar. E hoje celebrando com vocês o adeus do câncer que a cada dia fica mais distante e também as novas possibilidades de sonhar.

Fui paciente por 3 anos e meio e ainda serei paciente por mais algum período. Ganhei essa sobrevida da seleção natural da vida. Saber que a morte está logo ali faz a gente valorizar cada dia. Celebrar cada dia e pacientemente aguardar o próximo. Sem ansiedade e sem pressa. Aprender a esperar a natureza seguir seu caminho. Obrigado por esses dois novos anos e pelos próximos que irei esperar. “Não sou grato pelo câncer, mas sou grato por tudo que o câncer me ensinou”. Até a árvore sem folhas no outono é bonita e paciente pois a primavera irá chegar.

 

Dever de casa:

Se morrêssemos mês que vem os problemas de hoje seriam tão relevantes assim? Desperdiçamos nosso tempo dando valor a problemas tão simples que esquecemos de valorizar o que realmente nos traz felicidade. Pense no “pode ser que eu morra amanhã” e isso irá nos mostrar o que realmente nos é importante nessa vida.

Desculpem a correria e falta de revisão… meus revisores estão pelos blocos…

Não seja estraga prazer… eu sei que foi ontem (26/2)… mas da um desconto pois é carnaval