D605 (perdi o D600) virando páginas

D605 (perdi o D600) virando páginas

23 de outubro de 2016 1 Por Daniel Campbell

D605

Bom dia amigos,

Esqueci de comemorar o D600. A vida anda tão corrida que esqueci. Estar corrida tem um lado bom que não me permite pensar em nada que não valha a pena. Finalmente a palavra foco me fazendo sentido. Nunca tinha ficado tanto tempo em SP desde que morei aqui. Serão 10 dias ao todo essa viagem.

Estou em SP para mais um Vidaza (quimio). Para quem não entende o motivo de eu ainda fazer quimio mesmo “curado” é porque minha Leucemia foi bem forte e tem grande chance de voltar (apesar de saber que não irá voltar). Já foram 3 e já pedi música no fantástico como disse ontem um amigo meu. Então para prevenir que ela volte meu médico deixa a doença do enxerto acontecer em um grau “baixo” e junto com isso esse vidaza de “manutenção”.

Engraçado que os meses passam e não perco o costume de chamar ela de minha. Força do hábito talvez. Talvez seja hora de rever velhos hábitos. Virar algumas páginas. Lembrando que virar não significa esquecer, pois precisei passar essas páginas para chegar na de hoje. Talvez um motivo a mais para contar os dias. Todos únicos e diferentes com algo de novo para acrescentar. Uns bons e outros nem tanto.

Não comecei dessa vez com as notícias de saúde pois esse sentimento de virar a página seja mais interessante que as novidades. Quanto a leucemia está tudo em ordem. Alguns já me viram ou sabem do ocorrido com meu fêmur, sobre a necrose dele. Fiz a cirurgia há alguns meses atrás, passei pela cadeira de rodas, fiquei bom e agora voltei para as muletas devido a uma dor que está persistindo em ficar por aqui.

Acrescentei remédio para dor de horário para ajudar a ir levando sem muito masoquismo. Há umas duas semanas atrás deitado na cama “ansioso” para a aula de bioquímica no dia seguinte comecei a sentir uma dor muito forte no fêmur esquerdo. Justo o mais prejudicado. Precisei tomar algo bem forte para dor. E passou. Dormi e no dia seguinte começaram esses remédios mais fracos para dor. Já não consigo andar sem muleta. Dói demais andar sem pelo menos uma delas.

Sábado passado antes de vir para SP fiz uma ressonância e durante a consulta fiquei sabendo que provavelmente meu fêmur foi para o saco. Ainda não afundou de vez a ponto de precisar de prótese, mas algo ocorreu pois o fiz a ressonância com contraste. Na imagem aparece a cabeça do fêmur parecia marcada pelo contraste. Fiquei sabendo que poderia ser um milagre divino de voltado a vascularizar. Tive essa esperança por exatos 2 segundo. Foi quando veio um “também pode ser”, devido ao possível afundamento. Que é o provável pelas dores que eu relatei acima. Aquele momento de dor alucinante pode ter sido a hora que o fêmur machucou de vez.

“E agora josé?”

Não é sexta feira como diria meu caro chico, mas “é vida que segue”. Manco mas segue. Agora é ir levando até chegar um momento que tenha que colocar a prótese que não será por agora.

Essa foi a notícia ruim do post. Mas também tive ótimos momentos nessa viagem. Ontem reunimos os ex carecas do samaritano. Foi bem divertido. É legal conversar com pessoas que já passaram por isso. Saber de todos e que todos estão bem encaminhados. Óbvio que falamos dos nossos momentos. Por mais que tenhamos virado as páginas não esquecemos o que havia nelas. Bom conversar com quem te “entende”. Aonde a desgraça vira piada. Aonde nos entendemos mais um pouco vendo no outro aquilo que vivemos.

Mas como virar a página se meu fêmur ou minha doença do enxerto ou as viagens para SP estão sempre por aqui para me lembrar de tudo? Nunca foi um fardo a doença e não será agora. Nunca olhei para a “minha” ex leucemia como um fardo. A vida seguiu por esse caminho. É aquele velho ditado que não poderia faltar no meu post que sempre tem um. “Se a vida te der limões faça uma caipirinha”. E esses novos amigos e vivencias que tivemos são prova disso. Que passar por tudo isso não foi um sofrimento apenas. Temos certeza que para a “doença não iremos perder”, como disse outro amigo ontem.

Sei que meu limão ainda está preso na arvore amadurecendo a cada dia que passa. Sei que minha limonada ainda será feita sem pressa. (mais uma frase) Afinal, “a pressa é inimiga da perfeição”. Irá amadurecer e simplesmente cair. Sem queimar as etapas necessárias para se chegar lá. Tudo que preciso para isso é relaxar e esperar. Esperar pelo momento certo.

Mas sei que o momento certo é o “agora”. Não deixarei para amanhã para tomar minha limonada. Todo dia posso extrair um pouco dela. Com conversa com meus amigos, um dia na casa da minha avó, uma risada. Não existe momento errado. Meu limão sempre estará amadurecendo. Esperar pelo amanhã me cansa. Bom compartilhar meus momentos com vocês. Compartilhar um pouco do que penso e do que sinto. A vida é tão simples, não precisamos nos esforçar ou nos preparar para nada de especial. Torno minha experiência diária especial por si só. Um dia sempre é diferente do outro. E todo dia temos uma experiência nova para compartilhar. Basta olhar nossos problemas com bons olhos que teremos nossas limonadas. Hora da colheita.

Espero não estar muito confuso. Não tive revisão dessa vez hehe

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