D571 mais um dia

19 de setembro de 2016 0 Por Daniel Campbell

D571

Bom dia amigos,

vim para SP dessa vez no sábado. Estou começando o Vidaza hoje. Passamos esses dois dias em indaiatuba passeando. Hoje começou a rotina de SP com exame e vidaza. Está tudo em ordem tirando a lista a seguir hehe

O fêmur ainda está doendo. Apesar do raio-x estar aparentemente bom ainda sinto muito incomodo para andar. Fico parecendo o batoré da praça é nossa andando (só os antigos lembrarão). A coceira continua. A pele está com uma aparência melhor, menos ressecada e coçando menos. Só que ainda coça. Engordei como o confirmado pelas minhas bochechas nas fotos (87Kg). Sendo assim terei que diminuir o café da manhã, adeus metade da nutella diária.

Durante o período internado percebi o quanto buscava as coisas externas acreditando que aquilo me trouxesse uma felicidade. Na época antes de eu ficar doente me achava “feliz”. Empregado, fazendo pós, cercado de amigos com diversos planos, sonhos e desejos.

Quando fiquei doente percebi  que a  situação que a gente vive vai definindo o que trás essa felicidade. Estar numa situação cômoda cheia de prazeres da vida não bastavam, por isso tantos planos ainda. E a partir da doença sai dessa zona de conforto. O emprego se foi, assim como alguns amigos e muitos dos sonhos.

Passei a direcionar meus planos para o que eu podia. Quando estamos numa situação dessa que sentimos o quanto temos essa força de se levantar de novo. Simplifiquei esses planos. Ficar nessa solitude maior em função do tratamento me fez perceber que minha felicidade estava focada lá fora. Troquei o lá fora por aqui dentro. Lembro bem que fiquei mais em mim. Até algumas pessoas repararam, outras preferiram chamar de egoísmo, enfim… Mas nada ali fora era fruto de uma felicidade plena. E que só poderia contar comigo mesmo para sorrir naquela situação. Fui feliz em 90% do tratamento apenas comigo mesmo, sem nada das coisas que disse antes. Aceitei a minha situação de “doente” e que só queria viver. Perdi meus planos, mas sabia que seria algo temporário e necessário.

Acho que minha melhor estratégia foi justamente essa. Escolher ter felicidade por aquele dia que estava passando. Talvez por isso que eu conte até hoje cada dia que estou passando. Para me lembrar que estou aqui por mais um dia seja motivo mais do que  suficiente para ser feliz.

Após os tratamentos fiquei com muito tempo ocioso. Sem trabalho, sem estudos, sem amigos (morava em sp, não conhecia nenhum pauliXta tirando o pessoal do samaritano), sem precisar ficar em cima do muro sobre a vinda do meu próximo dia. Isso me fez perceber que realmente “cabeça vazia é oficina do diabo”. Sempre serei grato por “mais um dia”, é óbvio. Mas novos planos, desejos, sonhos e passatempos foram surgindo. Em SP usava algumas estratégias bem básicas para ocupar a mente (jogos, tinder). Meus novos amigos eram virtuais dos jogos e as namoradinhas vinham todas do tinder. Por um bom tempo foram ótimas distrações. Era um período de recuperação tanto física quanto mental apesar de sempre me considerar no mental. Foi uma maneira prática e simples de me ocupar usando o exterior sem fazer muito esforço. Afinal foram 2 anos olhando para o interior.

Só que esses momentos de felicidade “externas” foram tão passageiras e momentâneas que não estava mais satisfeito. O vazio existia. Ainda assim sentia a necessidade de realmente ocupar a mente. Voltar a trabalhar, estudar, entre outros.

Foi então que recebi minha liberdade condicional e comecei meu mestrado em Arraial. E o condicional não era um “drama”. Condicional porque sei de todas as complicações bem incomodas do pós-transplante. A vida agitada me fez esquecer por uns momentos o “mais um dia”. Esses dias de correria da nova vida me peguei pensando como minha vida de diversões fúteis era boa. E ainda disse que enquanto hoje eu trabalho 8 horas por dia antes eu namorava e jogava video game.

Ainda bem que existem esses momentos de solitude em que a gente consegue esse contato com o interior de novo. Seja parando para ler algo, escutar uma música, um pássaro, apreciar uma flor ou uma paisagem (visual ou acústica) que nos coloque em contato com o nosso interior que nos mostra o quanto o “mais um dia” já é mais do que motivo para estarmos felizes. Sempre gostei da frase “só tem problema quem está vivo”. Por mais momentos com você, solitude!

Resumindo o que escrevi e suas horas de leitura…

Comparemos a felicidade que vem do seu “de fora” com o seu desejo de tormar uma cerveja naquele sol. O início é delicioso e prazeroso que me fez até salivar aqui. Mas depois da 13ª lata você começa a ficar cheio de tanta cerveja que cansa. Às vezes da até ressaca. E notamos que não valeu a pena. Talvez um copo d’água saciasse nossos desejos. Mas por nunca estarmos satisfeitos desejamos tanto.

 

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