D559 pessoas significativas

D559 pessoas significativas

8 de setembro de 2016 1 Por Daniel Campbell

Caros amigos,

por aqui tudo em ordem. Viajei pela primeira vez sozinho depois do início de tudo. Chegou a parecer um fim. Ou pelo menos que esse fim está próximo. Foram 4 dias “sozinho”, com bons momentos de reflexão sobre esses 3 anos e alguns meses.

Reencontrar Leo e Lu. Colegas de trabalho com quem “morei” embarcado por muito tempo, foi único e prazeroso. Relembrar as histórias dos dias de mares, as histórias de terra, o “canta passarinho”, o arroz doce com strogonoff. E é claro, relembrar o início do tratamento. Pois os dois estavam comigo o tempo todo.

Só fui saber muito tempo depois, mas o pai da Lu foi o primeiro médico a participar dessa minha nova vida. Os cinco médicos anteriores disseram que era até sinusite ou algo assim. Ele, por mensagem, viu meu hemograma e praticamente obrigou minha mãe a me levar no hospital o quanto antes. Sou eternamente grato por essa família especial que a cada dia cresce mais.

Hoje em dia consigo lembrar de tudo sem um pingo de tristeza. Claro que ainda choro, não nego. Mas o que foi um dia lágrimas de tristeza hoje caem pela superação daquele período difícil.

Sempre tive o hábito de amenizar tudo o que sinto, guardo tudo. Quando sentia dores insuportáveis falava que era um incomodo. Quando me dizem que vai dar trabalho eu prefiro pensar (ou me enganar) dizendo que não será tanto. E apenas aprendi a guardar e reprimir essas lágrimas. Afinal, “o que não mata fortalece”.

Nesses 1 ano e meio de “cura” do câncer aconteceram 3 casamentos de pessoas especiais na minha vida. E foram datas em que não guardei lágrimas (D100, D? esqueci o D que caiu o do fernandinho, D555). Foram lágrimas boas de saber que passou, que superei e consegui estar ali para celebrar com as pessoas que amo o ápice da alegria em suas vidas até o dia de hoje (outras maiores virão). E espero estar presente no dia em que a alegria do casamento será superada com a dona cegonha.

Essa semana foi puxada por conta do mestrado e do casamento (na Bahia). Poucas horas de sono por conta da ansiedade e a vontade de aproveitar cada momento. Segunda cheguei da Bahia e fui direto para Arraial para apresentar meu projeto. E por conta da semana corrida e agitada ganhei uma dor no fêmur. Justo aquele que estava 50% necrosado. Ainda não sabemos o motivo, mas ganhei uma muleta de brinde de novo.

É óbvio que usar muleta me incomoda fisico e mentalmente, mas incomoda menos que a primeira vez. Esse lance de ficar calejado com os problemas que se repetem é verdade. A punção da medula é um exemplo claro disso. A primeira doeu na alma e a última que fiz (2985º vez) não doeu, só incomodou hehe. O pensamento vale para a muleta, afinal podia ser a cadeira de novo. E por já ter passado por algo muito pior a situação atual parece estar amenizada.

Escuto muito falar da maneira como eu encaro esses altos e baixos constantes da minha vida. E a resposta está ali em cima. As pessoas significativas na minha vida me fizeram ter forças para superar tudo para estar aqui presente querendo participar de cada momento com eles. Criei em muitas pessoas essa vontade de superar para estar junto. Foram meu apoio para que eu nunca me permitisse cair, ou caísse por pouco tempo. Minhas “muletas”.

Talvez alguns (quem me acompanha há muito tempo, e leem o texto até o fim) de quando eu disse sobre ser uma ilha. Ser solitário me trouxe muitas liberdades. Me permitiu estar sempre em contato profundo com minhas verdades.

Encarei essa solitude o quanto foi necessário até me sentir seguro o suficiente para não levar preocupação a quem estava por perto. Talvez por isso quando eu morria de dor falava que era apenas um incomodo.

Sei que foi um erro me isolar em certos momentos, mas foi necessário. Precisava da luz no fim do túnel que cada dia se afastava mais e resolvi “ser a luz para mim mesmo”. Precisei ser egoísta e tentar  caminhar pela escuridão sozinho. Mesmo sabendo que nunca estive sozinho.

Nunca me senti sozinho, solitário. Sempre tive minhas” muletas” ao meu redor para as horas de fraqueza e sabia disso. Nunca senti ausência dos que amo (mesmo quando estavam distantes por N motivos).

Buscar a minha solitude foi necessário. Precisava me sentir. Sentir o que só eu poderia sentir e entender o que eu estava passando. E para isso ninguém poderia me ajudar. Obrigado por entenderem minha necessidade de ficar sozinho e por sempre estarem comigo quando fraquejei. “Muletas” da minha vida.

Por mais casamentos e lágrimas de superação.

Também espero o meu “e viveu feliz para sempre”.

“Até o homem mais triste do mundo chora e até o homem que vive dando risada às vezes soluça, chora e deixa que as lágrimas escorram dos seus olhos”. Para vocês guardei os sorrisos.

 

“Mas eu tô rindo à toa
Não que a vida
Esteja assim tão boa
Mas um sorriso ajuda a melhorar”