D543 espírito olímpico

D543 espírito olímpico

22 de agosto de 2016 0 Por Daniel Campbell

D543

Bom dia amigos!

Confesso que estou uma eternidade sem escrever aqui. Muitos motivos para me justificar, então irei atualizando vocês.  Estava bem atolado estudando, lendo e escrevendo para meu mestrado. Ainda não montei a apresentação mas darei um jeito. Tenho concentrado meus esforços nisso, se tornou meu novo foco além da saúde. Algo para eu ocupar minha mente e deixar as coisas que ainda me incomodam mentalmente de lado.

Como alguns se lembram eu estava na cadeira de rodas, foram quase dois meses. Já tive alta dela, passei pelo andador e finalmente cheguei nas muletas. Sinto cada vez mais segurança para andar. Fiz uma ressonância mas ainda não olhei o resultado. Essa semana retorno para SP dando continuidade ao tratamento do vidaza. E de brinde consulta com o ortopedista que em clima olímpico será persuadido a me liberar para jogar bola. Somos todos olímpicos. Aproveitarei também a viagem para fazer prova de esforço pulmonar e mielograma (punção, aspirado, etc). Torcer para o médico acertar as lâminas com um furo só dessa vez. São apenas exames de rotina.

O gvhd continua bem, obrigado. Cada coceira me faz lembrar que tenho a medula nova ainda por aqui. Passei uns dias atrás por umas crises de coceira e falta de ar. Confesso que fiquei preocupado em ser gvhd de pulmão, mas era só uma pneumonia. E a coceira… Nossa! que desgraça… coçando o corpo inteiro que nem louco. Abrindo as feridas e nada aliviava. Por conta disso fui premiado com mais alguns remédios pela manhã e noite.

O tacrolimo que “acalma” minha medula se manteve na mesma quantidade, contudo começou o mmf que também é um imunosupressor. E daí vem o efeito bola de neve. Por começar agora ele não faz efeito imediato. Devido a isso voltei a tomar o corticoide que me deixou com a necrose no fêmur temporariamente até o imunosupressor novo começar a fazer efeito junto com o outro para segurar o gvhd. E a bola vai aumentando pois por conta desse novo remédio fico mais fraco ainda de imunidade, então ele entrou com um remédio novo para prevenir infecção. O corticoide por ser temporário não deve afetar os ossos de acordo com o médico.

Há praticamente um ano e meio atrás foi meu TMO. É uma montanha russa muito louca. Antes fosse apenas altos e baixos de alegrias e tristezas por conta desses muitos efeitos colaterais que não dão folga. Mas essa montanha russa me joga de cabeça para baixo constantemente.

Sempre me considerei bom demais em aceitar as coisas. Lembrando que trabalhar a aceitação do que estou passando não significa nunca que estou me entregando. Mas são tantos momentos baixos consecutivos que é difícil conseguir subir essa rampa em busca da alegria as vezes. Alguns amigos dois amigos sabem que pensei em largar o mestrado por conta de muitos baixos, foram pensamentos no auge da tristeza que já passaram assim como vieram. Nos últimos meses se parar para contar eu tive o problema do fêmur que foi um golpe baixo no meu emocional, o gvhd que não vai embora (estou escrevendo me coçando), pneumonias, entre outros.

Podia passar o tempo aqui me lamentando, mas assim como me lamentei preferi aceitar logo mais uma vez isso tudo e parar de lamentar. Meu médico diz que um dia isso tudo vai passar. Precisava de uma data para me confortar.

Uma vez comentei que cada um de nós é um ser único. Cada um que conheci durante o tratamento e que ainda venho conhecendo são únicos. E esses dias conheci duas pessoas bem especiais que me fizeram mudar mais uma vez a lamentação pela gratidão. Lutar pela vida é algo único e transforma a maneira como encaramos as coisas. E vi isso neles. Não vou contar as histórias pois não sei se eles gostariam de se expor. Mas ter com quem conversar sobre momentos assim. Compartilhar com “estranhos” que estão numa situação semelhante e trocar experiências é absurdamente mais fácil do que se abrir para um conhecido. Tão mais fácil que a gente chegou a rir das histórias trágicas da gente. Obrigado por entrarem na minha vida e me fazerem lembrar de que temos muito mais motivos para sorrir do que para lamentar.

Nossas conversas me fizeram lembrar o tanto que já celebrei e o motivo mais importantes dessa celebração. Estamos por aqui vivos ainda (um dia todos morremos). Hoje mesmo conversei com outro camarada de leucemia sobre isso. Sobre estar no jogo com meu avô e sentir aquilo tudo, poder olhar para trás de cabeça erguida e festejar minha vida ali com toda aquela energia boa acontecendo. Aquele arrepio que a gente respira fundo  e vem da alma e nos faz lembrar o quanto é bom estar vivo e encher os olhos de lágrimas de emoções. Aquele arrepio da melhor dor que já senti quando a medula pegou.

Me permiti ficar triste com a cadeira, com a coceira, com a imunidade, com problemas para me concentrar no mestrado por conta disso. Mas lavei minha “alma” suja comigo mesmo ao relembrar de tudo. Nunca me contentei com pequenas alegrias, então pequenas tristezas também não serão aceitas. Como estou falando de tantas pessoas falarei de mais uma, uma tia velha que me visitou hoje e sei que é uma das pessoas que mais torce por mim. Com seus belos e novos cabelos brancos muitas vezes me lembro dela escutando alguns sambas. E um deles me ensinou a “deixar a tristeza pra lá”. Afinal quem canta seus males espanta.

Crescer com essas experiências e vivências de nós e de outras pessoas únicas fazem a gente começar a olhar de outra maneira para os problema. A mente vai pregando umas peças que as vezes parecemos fracos (até para simples problemas). E se nos entregarmos é só ladeira abaixo. Por isso não deixo confundirem com a palavra aceitação. Quando a gente aceita a gente relaxa, mas não se entrega. Em algum momento temos que levantar a cabeça e dizer chega para a tristeza e arrumar uma solução.

Estou doente, mas vai passar. Estou manco mas tenho muleta e meu pai para me dar carona para o mestrado. Estou com pneumonia, mas já está passando. A coceira não passa, eu coço. Mas nada disso supera minha alegria de estar aqui. “A vida vai melhorar”, “pior não pode ficar”, “quando o vasco ganhar”, “e eu vou cantar e sambar”!

Resumindo: Não estava escrevendo pois não estava muito bem emocionalmente para escrever algo legal, mas a tristeza ficou de lado já. Um dia faço terapia…

Obrigado meus terapeutas honorários!! Escrevi demais para 1:30 da manhã! Perdão se algo não tiver sentido hehe

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