D382

15 de março de 2016 2 Por Daniel Campbell

D382

Boa noite, perdi a data de novo. Era para ter escrito no dia 14/03, mas como ainda não dormi esta no prazo de validade. Hoje fiz exames no Rio pela primeira vez depois da vida em SP. Os funcionários daqui curtem praia depois do expediente então o resultado só sai amanhã. Tenho certeza que estará tudo em ordem como sempre esteve. Continuo usando o imunosupressor e o corticóide. O joelho está ótimo, fiz ressonância no sábado e espero o resultado ainda também.

Geralmente venho para contar novidades do tratamento, mas hoje não tenho nada para atualizar. Hoje foi um dia de pensar no passado. É legal saber que muitos lembraram da data de hoje sem ter o facebook para lembrar dos aniversários. Agora entendi porque tinha amiga minha que fazia uma senhora DR por esquecer o aniversário dela. Não que eu fique chateado com quem não lembra. Mas ser lembrado numa data que você considera especial nos mostra o quanto somos importante na vida dessas pessoas a ponto delas lembrarem. Hoje (ontem 00:55) faz um ano que a medula que meu pai me doou. Lembro que falei que agora tenho uma mãe que me deu a luz e um pai que me deu a vida. Não teria data melhor para comemorar do que esse recomeço.11058414_919963641355590_3151530534046566899_n

Hoje sinto muito essa lembrança. Tenho dois amigos que conhecidurante o tratamento que estão no processo do Transplante de medula óssea (TMO) e saber que eles estão prestes a ter essa mesma sensação que nós tivemos. A brincadeira do “bolão” da pega, os dias na expectativa de ela começar a funcionar. A sensação de tirar essa muralha do caminho que segurou a gente na nossa vida paralela…

E saber que eles estão prestes a passar por isso nos faz ficar numa torcida absurda! Aprendi uma vez sobre o “tomar e dar” (vale a pesquisa sobre isso). Nunca vou esquecer a dor de quando ela começou a funcionar. Era uma dor forte, que dava gosto de sentir. Foi a primeira vez que sai da cama as 6 da manhã pois em pé aliviava a dor. Logo eu o mais preguiçoso que só saia da cama as 11:00, até o Dr Alexandre achou estranho. Desejo essa dor do fim de tudo para vocês.

Passar por essa situação me fez sentir seguro, lembro dos sentimentos pré transplante como se fosse agora. A sensação de confiança. Sempre fui extremamente racional durante o tratamento. Sabia dos risco, da perda de amigos que fiz. Mas meu lado emocional começou a participar. A insegurança que fazia me sentir entre a cruz e a espada do início do tratamento já não existia. Era a certeza de que tudo daria certo. Não hesitei. Demorou 3x para eu entender que só precisava acreditar e o resto iria sozinho. Não existe espaço para se questionar, apenas seguir. A emoção disso tudo acontecendo não deixa dúvida que esse é o caminho certo, não existe espaço para o errado. Dizem por ai que a fé move montanhas. A nossa tem movido doenças… Deixar de “ser” a gente, de pararmos a nossa vida, só nos deixa mais seguro que só existe a certeza de que tudo acabará bem. E como sabemos que tudo acabará bem a felicidade permanece…

Obrigado a todos que lembraram da data de hoje de coração! Foi um dia muito importante para mim ano passado. Graças a meu pai e a todos que me acompanharam estou por aqui ainda… Façam por quem ainda precisa de uma medula… “Doa a quem doer, doe-se”