D344 novas e antigas relações

5 de fevereiro de 2016 0 Por Daniel Campbell

D344

Em breve d365 (para quem ainda não captou D344= nº de dias do transplante), amanhã ou hoje na verdade que já passou das 24:00 acaba o vidaza. Esta indo tudo bem como sempre, sem efeitos colaterais normais das quimios. O corticoide que estava dando como efeito colateral problema no joelho e no tornozelo está sendo reduzido aos poucos, agora estou tomando 20g a cada dois dias e voltei realmente a tomar o tacrolimo. Para quem não acompanhava no facebook antes de existir o blog era o remédio que segurava a medula para evitar GVHD (doença do enxerto).

Essa semana foi intensa, bem cansativa da viagem para o Rio e altos e baixos que a vida vai nos proporcionando. Há alguns dias andei falando de sermos únicos, eu sei que já é o segundo ou terceiro post que entro nesse papo. Só que cada dia que passa e as coisas que vão acontecendo, com todo o meu tempo vago do dia fico e cochilos depois do almoço, fico pensando como realmente tudo é passageiro (não resisto, desculpem “menos o cobrador). Como as pessoas são passageiras. Acabei prestando atenção as pessoas novas a minha volta. Não que as antigas não sejam passageiras, só que elas eu já sei em que lugar da minha vida estão, valor e importância de cada uma delas. Algumas passam rápido demais e fica uma sensação estranha, de não estar integrado com a pessoa, de não criar um vinculo. As vezes acho que eu seria um bom político ou psicólogo porque bato palma pra maluco dançar. E até os malucos que as vezes aparecem são únicos. Não vou contar casos pois você pode se identificar e achar que te acho maluco. Mas quando criamos vínculos a história fica legal. Mais um para somar, para multiplicar as experiências. As vezes nem conheço pessoalmente e nem falo, mas outras pessoas me contam as histórias ou eu participo de longe e acabo criando um vínculo sem conhecer. E até dai a gente consegue compartilhar de bons momentos. De ver como terceiros amam incondicionalmente alguém. É legal ver esse amor de terceiros com outros. Tive o casamento do meu irmão no meio do ano e de um amigo há poucos dias e cumplicidade era acho que a palavra chave nos dois. E ter essa relação vista por fora foi tão gratificante. Lembro que para o casamento do meu irmão ainda estava na dúvida se poderia ir pois estava recente o meu segundo TMO. O casamento seria no d100. E fomos, pois havia pedido ao médico antes do TMO que o casamento seria D100 e eu iria. E ver a felicidade deles, do meu amigo e ao mesmo ter essas pessoas novas, com histórias felizes ou as vezes tristes mas saber o quanto eles se gostavam é gratificante.

Diria um ato de coragem ver ou participar de uma nova relação. Pensar que provavelmente iremos nos confrontar com uma situação difícil se pensarmos que será passageiro. Só que se acontecer essa integração e essa cumplicidade como vejo nos casais ai de cima, nos casais que conheci durante o tratamento, na minha família, com meus amigos sempre estaremos fortalecidos. Parece que é um bloom de coragem, que nos transforma. Sei disso nem é de mim, mas de amigos conheci pelo tratamento. As vezes esse carinho todo que recebemos sem pedir desperta em nós esse potencial de ir além. Esse carinho todo vindo de vocês é uma nova muleta para esse caminho árduo. E receber isso numa hora tão difícil é que a gente começa a entender o valor de algo tão simples.

É engraçado quando prestamos atenção no quanto amamos determinada pessoa (seja pai, irmão, sobrinho, tio, amigo, periquito, cachorro, etc). Ficamos tão inocente e quando isso tem retorno é algo que nos conforta. E foi nisso que senti a vontade de querer mais da vida. Ficamos mais confiantes. Acredito que no meu caso tanto eu quanto eles. E é uma confiança tão pura que acho que vem dai a crença no milagre, a fé pela recuperação. Antes da doença eu era meio cético, mas ao ver e sentir isso tudo vindo dos outros faz despertar uma chama para lado de quem crê (acredita).

Acredito nas orações da minha mãe, nas preces dos amigos, nas cirurgias espirituais de “estranhos”, no “tomar e dar”, nas promessas que fizeram, no gesto de solidariedade ao doarem… Acredito no amor sincero. É uma questão de se entregar. E podemos cativar isso em qualquer relação, é de graça. É infinito +1 para os amantes.

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