D323 “ando devagar, porque já tive pressa”

D323 “ando devagar, porque já tive pressa”

15 de janeiro de 2016 2 Por Daniel Campbell

D323

Já há alguns dias sem dar notícias. As plaquetas voltaram a cair essa semana provavelmente por conta do Vidaza que tomei assim que voltei para SP. O joelho que eu achava que não era grave pois a dor tinha passado que foi o susto do mês. Já que chega um mês sem sustos. Alguns já conhecem a história da doença de enxerto. Por conta dela estou tomando corticoides há alguns meses para tentar controlar essa reação da medula. Só que o uso contínuo dele pode causar osteoporose precoce. Pelo que o ortopedista falou, um pedaço do osso do joelho e do tornozelo não estão sendo irrigados e estão necrosando que pode gerar uma artrite no futuro. Por conta disso ganhei de presente uma muleta. Posso andar normal só que preciso da muleta para tirar o peso do joelho machucado. A tendência é que tirando o corticoide a vida volte ao normal. E provavelmente a doença do enxerto volte, acredito que em breve eu volte a tomar imunosupressor no lugar de corticoide. Sempre usei e já usei aqui também a frase “o que é um peido para quem…”, mas são tantos peidos…

Engraçado que agora me sinto um ancião de bengala na rua. As tiazinhas todas me passam caminhando na rua. Nunca quebrei nenhum osso na vida, então foi minha primeira vez com ela. Estou usando uma só. Tem lá suas vantagens…

Antes eu pegava fila preferencial por conta da máscara, agora de muleta ninguém mais contesta. Esses dias até usei a bengala para atravessar a rua porque vinha muito carro, claro que manquei um pouquinho. Passei a andar devagar, tenho que olhar para o chão para saber aonde colocar a muleta, pelo menos não piso mais aonde não deveria. Como que conseguem fazer calçadas tão tortas, inclinadas, buracos, enfim… Mas andar devagar é interessante. Minha avó usa bengala também, passei então a entender o porque além de andar devagar ela olha para o alto as vezes. Claro que entendi a malandragem de que é para tomar um ar, pois se for andar direitinho de muleta tirando o peso é cansativo, mas acredito que ela pare para prestar atenção em tanta coisa que geralmente passa despercebido. Aqui nesse bairro tem bastante árvore (não é que nem no Rio que tem macaquinhos correndo nos fios, mas…) que da para usar a bengala de apoio e ficar olhando por um tempo. Ou até mesmo reparar coisas no chão, já achei uns 70 centavos.

Quem diria, 30 anos e cheio de sintomas da terceira idade. Osteoporose, muleta, caixinha de remédio (tipo aquela que todo avô tem). A idade pesa. E para fechar com chave de ouro, cabelos brancos (no peito)… Achei que fossem loirinhos, mas realmente são brancos.

Essas lentas caminhadas durante a semana me fizeram parar muitas vezes e me sentir satisfeito. É claro que o filme ainda passa na cabeça de tudo que aconteceu e ainda acontece. E acho que o sentimento de realização é o que melhor expressa o que sinto hoje em dia. E o estranho disso é estar realizado mas não estar confortável. Aquela história da zona de conforto. Sei que muita coisa estar por vir nesse novo ano, que a zona de conforto não irá se manter e novas realizações virão. Afinal, estou saindo da “gaiola”…