D180… comemorando

D180… comemorando

25 de agosto de 2015 1 Por Daniel Campbell

É caros amigos, o tão esperado D180. Engraçado olhar para ele como só mais um dia. Saber que consegui chegar nesse dia tão esperado é motivador. No navio (para quem não me conhece eu trabalhava embarcado), sempre contava os dias. Primeiro por obrigação pelos relatórios e segundo porque gostava da sensação de estar no meio da viagem. Pois daquele momento em diante era só “ladeira abaixo” e como para baixo todo salto ajuda sempre foi importante a metade de qualquer meta minha(meta de verdade, não deixar a meta aberta).

Ainda tenho muitas coisas na cabeça, perguntas que me rodeiam a cada dia. Mas tenho certeza de que cada dia valeu a pena. Por trás desses 180 são 2 anos nessa estrada já. Poucos dias foram terríveis como se pensa, mas também não digo que foram fáceis.

Tenho colegas que parecem querer esquecer tudo o que passaram o quanto antes. Mas sempre fui meio cabeça-dura . Ainda faço questão de lembrar dos momentos. E quando não lembro por conta própria alguma coisa se encarrega de me lembrar. Estou com uma falta de ar e tosse chatinha (nada grave), mas me faz lembrar da fragilidade que ainda passo. É difícil aceitar que o que passou ficou para trás, não foi uma dengue de uma semana. Não me sinto mais um doente é claro, só que ainda passam certos momentos na cabeça.  Ainda não é a hora do adeus definitivo para essa lembrança. Engraçado que quando eu era adolescente me sentia invencível.  Sei que a vida está passando, conto dia por dia. Só que a leucemia ainda não é um passado. Se fosse eu não estaria morando em são paulo. Não é uma questão de criar apego a doença. Guardar o cateter e a agulha não são para eu lembrar que um dia eu passei por tudo isso, mas para me lembrar que meu futuro ainda não está definido e que com isso eu lembre de celebrar a vida. Sei que é preciso deixar passar, mas no tempo certo.

Acredito que isso tudo que passei não foi por ser forte, orgulhoso ou algo assim. Mas porque fui confiante. Alguns podem trocar o nome de confiança por fé. Mas confiei demais em mim , tanto que poucas vezes realmente me senti “um doente”. Confiei demais no apoio que recebi e que ainda recebo de todos. Obrigado pelas orações, correntes, cirurgias espirituais, boas intenções, energia positiva, suplicas, rezas, preces, etc. Nunca neguei nenhuma independente da minha religião, Deus é um só.  Não é uma religião que defini quem somos né? “Gentileza gera gentileza”. E sempre serei grato por depositarem a fé e a confiança de vocês em mim. Por muitas vezes vocês foram a luz no fim do túnel. Trouxeram a luz de diversas formas para que eu não ficasse perdido.

Não esqueci a doença, mas sei que tenho essa confiança de vocês. Isso faz o medo ir embora, me faz pegar o respiron e dar umas baforadas (assopradas). Posso não ter sido considerado curado pela medicina, posso ficar com medo quando pego alguma infecção, me assustar quando sai sangue no coco por causa de 26000 plaquetas. Mas estamos aqui comemorando mais um dia, seja o 180 ou o 360. “Vamos deixar a meta em aberto e quando atingir a meta a gente dobra a meta”. Pior que na minha vida fez sentindo essa frase.  Não me importo mais se fiquei indiano ou se estou novamente com pele de jacaré por causa do GVHD (doença do enxerto), posso acordar e olhar na minha contagem diária que mais um dia se passou.

É complicado enxergar dessa forma quando se está internado. Mas a confiança que o amanhã vai chegar move montanhas, ou cânceres. De todos que conheci que passaram por algo assim poucos eu vi se considerarem “doentes”. Por maior a aparência de doente que tínhamos nunca vestimos a carapuça. Todos somos leões em peles de cordeiro. Todos temos uma força absurda dentro de nós, uma confiança sem fim de querer viver mais.

Comemoro por tudo, por vocês, por mim e pelo leão que existe em todos nós. Não espere ser testado para ver do que somos capazes. E se formos… foco, força e fé.

 

 

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