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Parece piada, mas não escolhi o Dia… justo o dia das passeatas mas sem assuntos políticos, são mais polêmicos do que mamilos.

Ontem recebi o último vidaza desse mês. Agora folga de furada no cateter até sexta. Meus exames de sangue estão ótimos para quem está na minha situação. As taxas de plaquetas estão subindo e leucócitos bons.

Terminou de sair o resultado dos exames que fiz naquela punção da outra semana (quimerismo e cariótipo). Os resultados foram conforme o esperado. SEM leucemia e a medula realmente é 100% do meu pai, ou seja, a minha não está produzindo nada. O vidaza que eu estou recebendo ajuda justamente a enfraquecer ainda mais minha medula (doente) para que não retorne a produzir células ruins.

Essa semana que passou foi bastante interessante, tive conversas bem legais com algumas pessoas. Além da rotina do vidaza de ter que ir todos os dias ao hospital, tirei alguns minutos para reencontrar um amigo que está internado ainda que conheci durante minha internação. Também foi transplantado e a alta já esta por vir. Ele passou pelo menos processo que eu de escurecer a pele. Olhar para ele me vez voltar no tempo alguns meses. Não apenas pela aparência, mas pela maneira de pensar e reagir com aquela mudança. Engraçado ter experiência nisso. De falar e dividirmos tudo o que passamos. Levando na brincadeira a maioria das vezes, mas todo banheiro tem um espelho para lembrar a realidade. Enquanto eu estava internado parecia uma eternidade. Nunca tinha visto aquilo e as pessoas falavam que eu estava clareando e eu negava por me ver todo dia. Só que realmente passou. Já larguei minha cor de indiano, não consigo mais concorrer a cota de vagas. Foram alguns meses nesse conflito. E a melhor parte foi reparar que ele conseguiu ver em mim que iria passar. Tivemos exatamente as mesmas reações causadas pela medicação (língua anestesiada, a coloração da pele entre outros engraçados). Temos as mesmas piadas inclusive.

Acredito que a perda do controle nesse caso nos fez desanimar. Muitos diziam “mas você está vivo” e realmente é o que importava. Só que essa sensação de impotência quando algo está além do nosso alcance incomoda. Chega a perturbar tanto que você passa a perceber a sua incapacidade diante certos fatos. Sempre gostei muito da frase “tudo na vida é passageiro…” (cada um tem sua versão final). Só que não aguentava esperar essa passagem, pois não podia estabelecer uma data. Sempre funcionei com datas, prazos, etc. Gostava das coisas programadas (confesso que ainda gosto um pouco). O meu problema morava exatamente ai e com isso sentia ansiedade, medo. Me sentia preso, pesado. Existem coisas muito mais importantes do que estar no controle. 

Ser “feio” (diferente para quem preferir) até que é bom. Me lembro do patinho feio. Consegui desfrutar dos bons momentos mesmo não seguindo os estereótipos que me eram comum.

Nos condicionamos tanto a estar no controle que esquecemos de agir por instinto. De realmente fazermos o que temos vontade, de se importar com o que realmente vale. Como o fato de ficar indiano ser uma bobagem passageira que perdi até os cabelos. E assim como do casamento do mi para agora o cabelo voltou e a cor também. E caso não tivesse voltado teria que aceitar. Olhar no fundo do espelho e ver que minha pessoa não mudou pela aparência. Não preciso ter uma personalidade imposta pois sei quem sou. Demorei para descobrir. Só que careta, branco, indiano ou da forma que vier o novo cabelo ainda serei o Daniel C. Andrade de sempre. Tive vergonha sim de tirar fotos, nenhuma me agradava. Apareci em poucas fotos eu sei. Só no casamento do meu irmão que ainda estava bem corado que percebi isso e não me importei para as fotos. Eu estava ali presente independente de cor ou cabelos. Tanta gente careca e feliz por ai.

Muita restrição e imposição de tantos lados que as vezes esquecia apenas de olhar para dentro e ver o que realmente valia a pena. Minha felicidade vale a pena. Não sei se pareceu uma indireta, mas talvez tenha sido…

Tudo na vida passa, até uva passa………..

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