D1455 Ensinando é que se aprende

D1455 Ensinando é que se aprende

20 de fevereiro de 2019 4 Por Daniel Campbell

Qual era a sua matéria favorita na época de escola? Acredito que a maioria de vocês saiba qual é a minha. Sou biólogo desde 2009, então sou suspeito para dizer que a melhor matéria na escola sempre foi ciências. Vamos ser sinceros? Desculpem meus professores de ciências, mas o primeiro lugar sempre será da educação física (sempre passava com 10).

Desde criança sempre tive uma inclinação para o mar. A casa de praia da família foi grande responsável por esse amor. Lembro de algumas situações da minha infância, vagas memórias. Sempre adorei cachorros, só que minha mãe nunca deixou a gente ter. Ela dizia que não cuidaríamos dele e sobraria para ela, no fundo ela provavelmente estava certa.

Esse sentimento frustrado fez com que meu irmão e eu, 3 e 5 anos provavelmente déssemos um jeito, com a ajuda deles óbvio. “quem não tem cão caça com gato”, no nosso caso era maria farinha. Para quem não conhece é “parente” do caranguejo. Amarrávamos um barbante na patinha e andávamos 4 quarteirões até a casa dizendo que era nosso cachorro. Talvez esse tenha sido meu primeiro contato com a vida selvagem que eu me recorde.

Um segundo contato, que talvez muitos devam compartilhar era o capitão planeta. “Pela união dos seus poderes, eu sou o capitão planeta”. Não me julgue que tenho certeza que você se você conhece no final você imaginou o “vai planeta!”. Eu era o personagem do coração.

Essa paixão foi se intensificando, aos 13 anos comecei a mergulhar de cilindro, não sei como minha mãe me deixou sair de baixo da asa dela para me afogar assim. Meu sonho de criança passou então a ser oceanógrafo. Então cresci e comecei o curso de biologia marinha.

Biologia, (significado). Passei então a estudar a vida e foi então que em 2009 me formei. Sempre atuei como biólogo, tentando de alguma forma diminuir um pouquinho os impactos ambientais. Comecei trabalhando com peixes em hidrelétricas e um belo dia comecei a embarcar para diminuir os impactos que a operação do nosso navio causava.

E então veio o motivo de eu escrever aqui para vocês. O câncer surgiu e interrompeu toda minha vida, inclusive a profissional. Essa história já é mais familiar de vocês. Me afastei pelo INSS, tratei dos cânceres. Depois do último transplante (TMO) ainda tomei quimioterapia por 2 anos. E fiquei com a osteonecrose nos fêmures.

Por algum motivo ano passado o INSS resolveu me tirar do banco e me colocar em campo. Mas que campo? Fui buscar uma recolocação no mercado, só que para embarcar preciso de um curso para combater incêndio. Cheguei de muletas e fui negado em mais de um curso por causa delas.

Ser jovem e parar as atividades profissionais coloca nossa auto estima lá embaixo. Aquela sensação de invalidez de quando eu não conseguia tomar banho por estar internado é semelhante quando você quer voltar a trabalhar e produzir, mas não consegue.

Sabia que assim que saísse do TMO não conseguiria trabalhar por causa da imunidade. Voltar a estudar foi a saída mais estratégica para me sentir produtivo novamente. Comecei o mestrado em Arraial do Cabo (por isso moro aqui).

E o que nunca reparei é que nunca deixei de estudar a vida, só que era uma outra vida diferente da ecologia e do planeta. A minha vida, que passei alguns anos dedicados a me conhecer e aprender sobre a caixinha de surpresa.

Talvez você se lembre da lição que Lavoisier nos ensinou. “”Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Hoje entendo que esse período de câncer foi uma escola em horário integral da vida.

Passar por dificuldades nos faz crescer, só levantamos depois que caímos. Hoje posso dizer que me transformei bastante em relação ao Daniel pré-leucemia. Voltei a estudar as vidas que mais amo, a minha e natureza. Chegou a hora de passar esse conhecimento adiante…

Agora estou começando mais uma nova jornada. Ensinar o estudo da vida para crianças será o novo desafio. Mas algo me diz que irei aprender novamente com a vida, mais do que ensinar! “Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes”.

Ass: Tio Daniel

Vai planeta!