D1455 Ensinando é que se aprende
Qual era a sua matéria favorita na época de escola? Acredito que a maioria de vocês saiba qual é a minha. Sou biólogo desde 2009, então sou suspeito para dizer que a melhor matéria na escola sempre foi ciências. Vamos ser sinceros? Desculpem meus professores de ciências, mas o primeiro lugar sempre será da educação física (sempre passava com 10).
Desde criança sempre tive uma inclinação para o mar. A casa de praia da família foi grande responsável por esse amor. Lembro de algumas situações da minha infância, vagas memórias. Sempre adorei cachorros, só que minha mãe nunca deixou a gente ter. Ela dizia que não cuidaríamos dele e sobraria para ela, no fundo ela provavelmente estava certa.
Esse sentimento frustrado fez com que meu irmão e eu, 3 e 5 anos provavelmente déssemos um jeito, com a ajuda deles óbvio. “quem não tem cão caça com gato”, no nosso caso era maria farinha. Para quem não conhece é “parente” do caranguejo. Amarrávamos um barbante na patinha e andávamos 4 quarteirões até a casa dizendo que era nosso cachorro. Talvez esse tenha sido meu primeiro contato com a vida selvagem que eu me recorde.
Um segundo contato, que talvez muitos devam compartilhar era o capitão planeta. “Pela união dos seus poderes, eu sou o capitão planeta”. Não me julgue que tenho certeza que você se você conhece no final você imaginou o “vai planeta!”. Eu era o personagem do coração.
Essa paixão foi se intensificando, aos 13 anos comecei a mergulhar de cilindro, não sei como minha mãe me deixou sair de baixo da asa dela para me afogar assim. Meu sonho de criança passou então a ser oceanógrafo. Então cresci e comecei o curso de biologia marinha.
Biologia, (significado). Passei então a estudar a vida e foi então que em 2009 me formei. Sempre atuei como biólogo, tentando de alguma forma diminuir um pouquinho os impactos ambientais. Comecei trabalhando com peixes em hidrelétricas e um belo dia comecei a embarcar para diminuir os impactos que a operação do nosso navio causava.
E então veio o motivo de eu escrever aqui para vocês. O câncer surgiu e interrompeu toda minha vida, inclusive a profissional. Essa história já é mais familiar de vocês. Me afastei pelo INSS, tratei dos cânceres. Depois do último transplante (TMO) ainda tomei quimioterapia por 2 anos. E fiquei com a osteonecrose nos fêmures.
Por algum motivo ano passado o INSS resolveu me tirar do banco e me colocar em campo. Mas que campo? Fui buscar uma recolocação no mercado, só que para embarcar preciso de um curso para combater incêndio. Cheguei de muletas e fui negado em mais de um curso por causa delas.
Ser jovem e parar as atividades profissionais coloca nossa auto estima lá embaixo. Aquela sensação de invalidez de quando eu não conseguia tomar banho por estar internado é semelhante quando você quer voltar a trabalhar e produzir, mas não consegue.
Sabia que assim que saísse do TMO não conseguiria trabalhar por causa da imunidade. Voltar a estudar foi a saída mais estratégica para me sentir produtivo novamente. Comecei o mestrado em Arraial do Cabo (por isso moro aqui).
E o que nunca reparei é que nunca deixei de estudar a vida, só que era uma outra vida diferente da ecologia e do planeta. A minha vida, que passei alguns anos dedicados a me conhecer e aprender sobre a caixinha de surpresa.
Talvez você se lembre da lição que Lavoisier nos ensinou. “”Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Hoje entendo que esse período de câncer foi uma escola em horário integral da vida.
Passar por dificuldades nos faz crescer, só levantamos depois que caímos. Hoje posso dizer que me transformei bastante em relação ao Daniel pré-leucemia. Voltei a estudar as vidas que mais amo, a minha e natureza. Chegou a hora de passar esse conhecimento adiante…
Agora estou começando mais uma nova jornada. Ensinar o estudo da vida para crianças será o novo desafio. Mas algo me diz que irei aprender novamente com a vida, mais do que ensinar! “Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes”.
Ass: Tio Daniel
Vai planeta!
Meu herói ou meu preferido conforme palavras do meu querido
Michel. Tem pessoas que tropeçam e vão de cara no chão. Outros tropeçam e vão cambaleando até emprumar e seguir o caminho ( exemplo do tio Paulo). Você está no segundo exemplo e chegará muito longe por seus próprios méritos e pelas nossas orações.Em tempo: durante um período eu dizia a vocês que a Medusa e a Paty eram uma sua a outra do seu irmão e que eu só cuidava!!!! Bjs no seu coração.
hahaha adorava a medusa! era linda demais, a paty lembro menos. Lembro que era mais desconfiada. E quem diria que depois de 3 leucemias eu iria dizer… Como a vida está sendo boa cmg!
Cara, encontrar seu blog tá mudando minha perspectiva sobre meu diagnóstico (LLA). É complicado ter que lidar com uma notícia dessas sendo jovem (tenho 23 anos), mas quem disse que seria fácil?!
Vou começar a quimio essa semana e, como já tenho indicação pro TMO, se Deus quiser, estarei fazendo o transplante também.
“Viver um dia de cada vez” acho que é a frase que mais tá definindo meus dias e o da minha família. É ter força, fé e tranquilidade pra seguir em frente
Olá João, sinto pela notícia da lla. Mas com um pouco de otimismo e esperança tenho certeza que irá superar isso da forma mais leve possível. Espero que já tenha doador compatível, facilita muito a vida! Viva um dia de cada vez, só não se esqueça de matar um leão por dia para amanhã não serem dois!
Se quiser depois jogar conversa fora me chama no insta, ou facebook. Costumo olhar com mais frequência. Te espero por lá! abraços e toda a sorte do mundo!