D1441 “Ao infinito e além”
Você sabe como lidar com as pedras que surgem no caminho? Como já diz o ditado “só não tem problema quem já está morto”. Não importa o tamanho do problema, todos sempre teremos algum.
E o que fazer quando nos deparamos com um problema difícil em nossas vidas? Você costuma aceitar bem os limões da vida? Chupa o limão e faz cara feia ou faz caipirinha? Esses dias escutei que ou somos vítimas ou somos guerreiros.
As vezes nos acomodamos com nossos problemas. Se acomodar é bem diferente de aceitação. Sei que diversos fatores interferem e que cada caso é um caso sobre como encarar uma adversidade.
Quando nos apegamos a um problema passamos a usar ele com desculpas para limitar nosso próximo passo e acabamos estagnados ali, viramos estatuas vendo a vida passar. Perdemos a oportunidade de cada precioso dia.
Por dois anos me acomodei as muletas devido ao meu problema no fêmur. Sei que existe uma necrose importante na cabeça do fêmur. Não posso ignorar isso, sei que não adianta ir com muita sede ao pote. Só que também sei que não posso ficar esperando a vida passar.
Tem dias que sentamos no sofá, o controle está longe demais para mudar o canal. Ficamos ali assistindo lagoa azul, seguido de Faustão. Até que chega uma hora que por mais confortável que seja o sofá perdemos a paciência e nos levantamos para pegar o maldito do controle.
Por muito tempo a muleta foi meu sofá confortável de onde assistia tudo de forma cômoda. Mas estava deixando de assistir o que eu queria para ver Faustão por mero comodismo. Só que esse comodismo começou a me incomodar demais.
Por algum tempo eu desisti de ter sonhos e vivi literalmente o hoje. É uma forma radical de como ser feliz sendo racional. Funciona, mas a vida de cores lindas passa a ser vivida em preto e branco. Tem seu charme o preto e branco? Até tem, me contentava com casos de família no sbt e até ria sentado no sofá.
E quando nos acomodamos passamos a ficar satisfeitos com migalhas. Só que passei por problemas demais na vida para me contentar em ficar parado na minha zona de conforto. Até as plantas que ficam enraizadas sem poder se locomover buscam uma fuga da zona de conforto. Pode até demorar mas elas vão lutando por um lugar ao sol (fototropismo – para a galera do 6 ano, cai na prova da tia de ciências).
Então se a bendita planta, que não tem como se mover e criando raiz, luta para sair da zona de conforto, por que nós vamos nos acomodar com problemas? Na adversidade que crescemos. A planta vai atrás do sol, a flor de lótus vem da lama para florescer e você? Sentado no sofá ou fazendo fotossíntese para alimentar seus sonhos?
Antes de fechar o diagnóstico de leucemia sempre tive o costume de subir a Pedra da Gávea aqui no RJ. É uma trilha longa de 2:30. Subi inúmeras vezes durante minha curta vida. E assim como surfar era algo que eu amava fazer. Deixava de ir para a balada para acordar muito cedo e subir para encontrar meu lugar ao sol. Assim que desembarquei já com diversos sintomas da leucemia (mas sem o diagnóstico) resolvi subir com um grande amigo do navio que nunca havia feito a trilha.
O câncer nos suga tanto que até parece um parasita. No dia anterior tinha bebido duas latinhas. E ao subir a trilha reclamava de cansaço, uma sensação de ressaca inexplicável. Não tinha sentido, apenas 2 latinhas. Aos trancos e barrancos subimos. Depois veio o câncer e a história vocês já conhecem.
Hoje eu poderia estar sentado no sofá como mais um dia normal assistindo casos de família. Só que resolvi sair da inércia. “Todo corpo parado, tende a permanecer parado a menos que uma força seja aplicada sobre ele”.
Geralmente não antecipo a meta, mas esse blog me deixa ansioso as vezes para dividir os planos com vocês. Calma que não subi a pedra da gávea, afinal foram dois anos de muleta. E sonhos que se realizam na hora só com fadas madrinhas. Assim como o surfe preciso me preparar para não dar um passo maior que a perna sem a muleta.
O primeiro passo foi dado hoje para atingir novamente meu lugar ao sol. Precisava testar minha força de sair do repouso. Um pequeno passo para a humanidade, mas um grande salto para a mim (adaptado). Fiz minha primeira trilha depois de 6 anos, pedra Bonita. 40 minutos de subida sem pausa para descansar, com muletas. Evitei usar, mas tinha hora que me sentia mais seguro para evitar escorregar.
Precisava alimentar de alguma forma meus sonhos que ainda estão distantes, manter eles vivos. E nada melhor que se desafiar para ver até aonde esse próximo passo consegue pisar. Pisando nos problemas consegui subir mais um degrau. “Ao infinito e além” (Buzz Lightyear, 1995).
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