D1414 Sob pressão

D1414 Sob pressão

9 de janeiro de 2019 4 Por Daniel Campbell

O último post recebi um retorno de vocês falando de como desde sempre a vida me adestrou a não ser (tão) ansioso. E muitos de vocês parecem se identificar com o assunto ansiedade. Por isso acabei retomando o assunto aqui.

Como paciente oncológico entendi que não adianta ser impaciente. Seguir protocolos de 6 meses de quimio para só saber o resultado lá no final foi um dos desafios contra a ansiedade.  Aprendi a não me importar mais com os resultados dos exames pois sentia que aquilo me consumia.

“Notícia ruim chega rápido”, passei a deixar a ansiedade dos exames com 30 nomes que me recusava a pesquisar no google para o meu hemato.

(vou abri um parêntese aqui. Óbvio que desapeguei dos resultados dos exames porque tinha a equipe de médicos e familiares que cuidavam de mim e olhavam de perto as alterações. Nunca deixei de fazer os exames e cumpria 99% das recomendações).

Retornando para a ansiedade. Todos sabemos que é um estado mental. E nossa mente adora nos pregar peças constantemente. Seja a ansiedade por uma prova na escola (quem nunca passou o fds estudando para a prova de segunda sem conseguir dormir?). Confesso também que na escola nunca fiz isso. Só que durante a universidade conheci o café e passei a fazer.

Como comentei anteriormente sobre a vida ir moldando minha mente para ser mais paciente sei que ela também pode agir ao contrário. Só que jogar a culpa só para a vida sobre nossa ansiedade é simples demais.

Assim como nossa felicidade em teoria depende única e exclusivamente de cada um de nós, nossa paciência também funciona de forma parecida. Se não buscarmos nossa paciência da mesma forma como buscamos a nossa felicidade continuaremos com essa sensação de angústia que gera essa ansiedade em diferentes intensidades para cada um de nós.

Os motivos mais diversos existem, acredito que o top3 mundial seja: de causas amorosas, profissionais e de saúde. Sim, se eu me deixar levar a ansiedade também me consome. Afinal, “faça o que eu digo, não o que eu faço”.

Aprendi muito como minha mente funciona sendo paciente nos meus momentos de solitude. Pensei em mil maneiras de explicar como é esse funcionar e isso me deixou ansioso por não ser simples. Se fosse ninguém sofreria com isso, mas tentarei de forma simples.

Tenta imaginar aquele cachorro que não para por um segundo. Rasga o sofá, corre atrás de pombo, morde o calcanhar. Nossa mente funciona assim com os pensamentos, impossível não estar pensando em nada sem um mínimo de esforço. Então quando seu companheiro (a) estiver olhando para o nada e você perguntar “no que você está pensando?” e ela(e) responder “em nada”, desconfie. É assim que a mente funciona, nem precisamos dar asas a imaginação.

E assim como um cachorro inquieto precisamos de “adestramento”. É difícil desapegar de um pensamento ansioso. “Será que ele está bem?”, “Será que meu exame está normal?”, “quanto está o jogo do Brasil?”, “será que cai a fórmula de bhaskara (olhei no google, é assim)?”

Imagine esses pensamentos como a bolinha de brincar do seu cão. Quanto mais você remexer a bolinha, mais atiçará seu cão. E o que realmente precisamos fazer para ele largar a bola é apenas deixar de lado.

Nossa mente segue a mesma idéia. Quanto mais brigarmos com aquele pensamento que nos tira de nossa paz para ele ir, mais difícil será para desapegar dele. E mesmo assim depois daquela luta e finalmente esquecemos, vem outro pensamento logo em seguida.

E como adestrar nossa mente a deixar de lado esses pensamentos todos? A saída imediata e que muitos usam (inclusive eu) como fuga é a barra de chocolate ou o pote de sorvete. Só que quando queremos resultados permanentes e sem alteração na balança, esse adestramento diário se faz necessário. Até o dia que o cão simplesmente não ter mais interesse na bolinha.

Existem diversos tipos de práticas. Talvez a mais conhecida no mundo seja o ato de contar carneirinhos. Ocupamos a mente com algo aparentemente besta e conseguimos focar só nisso. Na minha visão leiga esse adestramento mental é um mecanismo semelhante a um mantra, ou rezar um terço, entre outras.

Então ao invés de corrermos atrás do cachorro com a bolinha, por que não correr atrás de pensamentos gratificantes? Afinal, “livrai-nos de todo o mal” não pode depender só da vida (ou de Deus). Precisa partir de nós essa determinação.

E sabemos que quanto mais tentar tirar a bolinha do cachorro ele morderá mais forte. Então a única tática possível é enganar, tirar o foco da bola. Com cachorros de verdade um biscoito é ótimo para isso (engraçado, pois com chocolate também sou). Então o cachorro não irá nem mais saber o que é uma bola.

Uma vez escutei que pensamentos são como nuvens no céu. Se pararmos de olhar elas passarão sem ao menos notarmos. Se fosse resumir esse post em uma eu diria: a velha arte de ligar o “dane-se”…

Que 2019, feliz 2019!

(sem revisão)