D1404 O melhor está por vir…

D1404 O melhor está por vir…

29 de dezembro de 2018 0 Por Daniel Campbell

Você é uma pessoa ansiosa?

Esses dias escutei que se você não lida com a sua ansiedade, você permite que ela te consuma aos poucos. Um dos questionamentos que eu recebia mais comuns do tratamento contra a leucemia era sobre essa maneira leve de encarar tudo.

Talvez minha vida tenha me preparado desde sempre para eu não virar refém da ansiedade. Desde pequeno já comecei a trabalhar de diferentes formas o “esperar”. Sempre surfei e praticar esse esporte me ensinou a esperar o momento perfeito, a onda perfeita. Sem me afobar com as marolas da vida.

O tempo passou e mais uma vez o destino me fazia aprender a ser paciente, no sentido de ter paciência. Fui estagiar como estudante de biologia em Arraial do Cabo na época (2007). Fui morar na casa da minha tia Arlete que era próximo ao estágio. No primeiro ano tinha a companhia dela e dos meus primos. No ano seguinte, eles foram para o Rio e eu fiquei.

Era eu, Thor (um labrador que me ensinou a nunca vestir branco) e o Loro (meu amigo de assobios matinais). Nesse tempo aonde não existia smartphone e a internet só era acessada aos domingos pelo telefone fixo. Pois é, na época utilizávamos o telefone fixo além do combo da internet.

Nesse período aprendi que não precisava de muito para ser feliz. Saia do estágio com a prancha no teto e parava em qualquer praia para o surfe de fim de tarde. Era a época do “Jason mraz – i’m yours”, como essa música tocou no pré surfe. Posso até afirmar que essa época foi o divisor de águas da minha independência emocional. Eu conseguia ser feliz só comigo, lembre que solitude é diferente de solidão (muitas aventuras para contar aqui).

No estágio de biologia, meu orientador me ensinava a identificar peixes contando escamas da linha lateral. Imagina chegar na escama 77 e perder a conta? Que teste… Por isso tenho essa paixão por Arraial. Até hoje tenho as memórias bem vivas, lá consigo ter minha paz. Obrigado Tia Arlete!

Depois disso comecei a embarcar (35 dias no mar/ 35 dias em terra). Alguns nos consideravam anormais, para não dizer malucos, por ficar tanto tempo no mar a 200km da costa. Mas lembro de um dia que estava em terra e chegou o dia de embarcar. Parei e pensei “que bom que estou voltando”. Esses 35 dias no navio eu conseguia ter meu tempo, morava 2 minutos do meu escritório e em mais 2 minutos estava na “praia”.

Aprendemos a olhar o mar até perder ele no horizonte sem esperar nada. E quando menos esperávamos ver algo… alguém gritava “baleiaaaa” e ganhávamos o dia mesmo se ela estivesse lá no horizonte. Aprendi a tomar café e esperar… mesmo quando não víamos algum animal o Sol estava lá dando um show a cada fim de dia.

Durante os embarques, aprendemos a esperar sempre o dia do desembarque. As vezes o desembarque estava marcado para o dia X, entretanto algum imprevisto meteorológico ocorria e o dia X ia por água abaixo. Aprendemos que imprevistos sempre acontecem…

E essa espera toda sempre me ensinou a buscar o lado bom. Afinal “o que não tem remédio, remediado está”. Nesses aprendizados eu poderia apenas ter surfado a menor marola, poderia ter sido ansioso por estar sozinho, ou por nada acontecer…

Sem sombra de dúvidas meu maior teste de ansiedade foi o pós tratamento. A restrição de ir a praia por causa da baixa imunidade. Ali encarei meus maiores desafios, me controlar… Pode ser que esse seja o maior teste de controle de ansiedade. Olhar o mar e não poder entrar. Ondas rolando e eu me remoendo. Nesse dia aprendi que era 99% do tempo um cara disciplinado. Sempre acabava colocando o pé na água, molhava a mão e passava na nuca.

Tirando o pé soube esperar o dia certo. Meu primeiro dia de praia não foi um mar clássico. Estava com ondas pequenas. Mas aquele mar me satisfazia. Entrar nele e sentir aquele sal. Ter gotas salgadas escorrendo pelo rosto e não serem de lágrimas é algo que nunca terá preço. Sabia que iria valer cada minuto, cada mês, cada ano aguardado.

Aprendemos a ser paciente muito antes de sermos pacientes, cada um com uma trajetória. E não poderia ter sido diferente no tratamento. Quando encaramos uma situação “difícil” podemos ter medo, tristeza, ansiedade, etc e tal. Ou podemos apenas sorrir e encarar. Geralmente quando escolhemos a segunda opção o resultado é mais satisfatório.

Não negue os desafios! Assim como precisamos passar pela maior onda para chegar na arrebentação e esperar a melhor onda do dia, também precisamos passar por desafios para esperar o melhor da vida. Afinal, “o melhor da vida sempre está por vir”! Não seja ansioso, apenas corajoso! Continue a remar…

Para a música leia “ela” como a nossa vida.