D1368 E aí José (+18)

D1368 E aí José (+18)

25 de novembro de 2018 0 Por Daniel Campbell

Caros, hoje quero dividir algumas das histórias que talvez não devesse estar postando pelo grau de intimidade e por ser um tabu para muitos.  Como muitos sabem descobri que estava com Leucemia aos 28 anos, 28 verões… os sintomas foram aparecendo aos poucos. Primeiro um hematoma durante um futebol, seguido por gânglios inchados, gengivite, estado febril, cansaço. Isso tudo em um curto espaço de 3 meses.

28 verões, rato de praia, gordinho atleta que surfava, jogava bola, pedalava e como todo bom carioca, boêmio. As vezes tenho a impressão que minha mãe ficava mais tranquila comigo no navio há 300km da costa do que saindo da praia e tomando uma gelada.

Na minha primeira internação, com o primeiro contato com a doença não tive cabeça para assimilar. Entrei muito fraco fisicamente e depois da primeira quimio piorei mais ainda. Não tinha forças para virar o corpo durante o banho no leito. Perdi 17kg em 1 mês.

Só que a curiosidade dos mais íntimos era sobre o banho no leito. Com aquelas brincadeiras bestas sobre o banho e ereções. Era tanta informação que nem tímido ou pensar em qualquer coisa durante o banho ou fora dele eu conseguia. Sim, fiquei broxa por 1 mês. Mas naquele momento de tristeza isso nem era o foco.

Minha crise dos 30 era se ia viver ao invés de envelhecer. Na segunda e terceira leucemia também aconteceu o mesmo. Muitos não irão acreditar, mas realmente passava 20 minutos no vaso lendo livros. Nessas internações eu já estava mais bem resolvido com a doença, então a impotência me incomodou um pouco. Acho que incomodaria qualquer homem saindo “da idade do urubu para a idade da águia” (se não sabe não sou eu quem vai explicar). Foi um conflito mental a perda da virilidade, o ponto fraco de muitos homens.

Um belo dia, dormindo na cama do hospital tive um sonho impróprio para menores. E durante esse sonho “queimei a largada”. Queimar a largada no próprio sonho? Talvez tenha sido um pesadelo para minha virilidade. Quando estava queimando a largada acordei. Sabe quando você sonha que está fazendo xixi e acorda fazendo xixi e realiza que ainda está na cama? Foi algo semelhante.

Levantei com o maior silêncio e cuidado do mundo. Tirei a bomba de medicamentos da tomada já com o dedo no silenciar. Meu pai estava dormindo no sofá. Fui descalço para o banheiro e tomei aquele famoso banho tcheco, lavei a cueca e voltei a dormir aliviado. No dia seguinte acordei e falei que não tinha aguentado chegar no banheiro e fiz xixi na cueca (eles até hoje não sabem disso). Poucos sabem que o blog surgiu depois desse episódio, uma história para outro momento…

Nós homens temos umas preocupações bestas, mas depois da primeira leucemia entendi que era passageiro, afinal tudo na vida é. Por mais que eu soubesse que o importante era estar vivo, me curar e por mais bem resolvido com o tratamento aquilo me incomodava. E sei que incomoda muitos outros homens.

Muita gente acha que o câncer acaba com nossa vida sexual. Hoje sou estéril por conta de tantas quimioterapias, mas cada caso é um caso. Durante o tratamento nosso corpo fica bastante debilitado, o câncer de próstata (que não é meu caso) também pode afetar a vida sexual, mas não existe regra. Na maioria dos casos é possível recuperar o controle da função erétil. Não tenha medo do exame de rotina! Incentivem e cobrem dos seus familiares exames de rotina! Ter hábitos de vida saudáveis, ir ao médico uma vez ao ano e realizar os exames necessários podem fazer toda a diferença na vida de inúmeros homens.  A vida já é curta demais para encurtarmos ainda mais por medo de exames. “Mude o fim dessa história”.

Novembro Azul é o mês que prioriza a conscientização sobre o câncer de próstata. Segundo tumor mais frequente em homens, com mais de 68 mil novos registros no Brasil anualmente, a campanha busca alertar pacientes do sexo masculino para a necessidade do autocuidado com a saúde e sobre a importância da realização de exames regulares para o diagnóstico precoce. Eu contei a minha história. E você, como quer contar a sua? Nos ajude na conscientização da doença.

www.oncoguia.org.br

@oncoguia

Não poderia faltar a música, né?

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