D1335 “D calças curtas”

D1335 “D calças curtas”

23 de outubro de 2018 0 Por Daniel Campbell

Depois de um tombo de bicicleta, sinusite do mês, frustrações pessoais normais, viagem para SP que deixou meu fêmur bem sensível posso dizer que mesmo assim o saldo ainda é positivo. Os exames de rotina estão bons. A data para 5 anos de remissão, a cada dia que passa é menos um para alcançar.

Não faz muito tempo que encerrei o tratamento da rejeição de pele (GVHD ou doença do enxerto). Para quem não lembra era aquela minha pele de jacaré das fotos de alguns meses atrás. Aquela reação de rejeição da nova medula contra o meu corpo. Tratei e resolvi o problema.

Só que a expressão “a vida é uma caixinha de surpresas” se fez presente na minha vida mais uma vez. As vezes algumas situações surgem de forma tão repentina e intensa que nos pegam de calças curtas. Por mais que pareça fácil ser racional com essa bagagem toda que adquirimos durante a vida sabemos que nem sempre é assim e acabamos sendo intensos demais por não estarmos preparados para todas as surpresas da vida.

E diante dessas surpresas descobri que o GVHD é completamente conectado com o emocional. Vejo muitas pessoas que tem herpes, por exemplo, relacionando o surgimento das perebas com o abalo emocional. Ou seja, minha rejeição de pele resolveu mandar lembranças com coceiras nas costas e próximo ao pescoço. Ainda está no início, já conheço bem meu corpo e fui na dermatologista. Ela passou já as pomadas, antialérgicos e unhas devidamente aparadas. Por enquanto ainda não precisarei dos banhos de luz UV.

Depois de alguns anos de tratamento posso dizer que minha maior busca é ser feliz. E agora pelo visto além de ser uma busca passou a ser uma obrigação. Saber que a balança do meu equilíbrio mental não pode pesar para o lado negativo, pois é gatilho da minha rejeição é uma novidade que ainda não estava preparado.

Mas como se comportar com situações que fogem do nosso controle? Sempre me dei um dia de luto para lamentar, digerir e aceitar as pegadinhas da vida. Reparei que esse gatilho está mais relacionado ao estresse do que a tristeza em si.

E como não se estressar com o dia a dia de um adulto? Se souber me conta… Esses sinais de que a vida não é tão “conto de fadas” como gostaríamos podem nos tirar do eixo, vide o que estou passando. Ainda sou um jovem aprendiz das lições que a vida coloca em nossos caminhos para nos ensinar. Ainda temos muito a aprender pelo visto e precisamos desacelerar esse carrossel de emoções em situações especiais.

Costumo ficar sozinho nos meus momentos de desequilíbrio. Colocar a cabeça no lugar. Realmente as porradas da vida ensinam. Através delas aprendi a ter meu tempo, pensar bastante. Aprendi que meus problemas passarão só que eu continuarei por aqui amanhã. O conjunto de histórias vividas me trouxeram até o momento de hoje com esse jeito estranho de pensar.

Se colocar na balança do meu emocional até o dia de hoje, mesmo tendo esses deslizes, acho que fiz um trabalho bem feito de me conhecer melhor do que ninguém. E estar sob bases tão firmes de como reagir a novidades tão intensas pode ser o segredo para não se estressar. “A estrada nunca é firme, a firmeza está no caminhante”. Não temos sangue de barata, mas saber a hora certa de desacelerar as emoções pode ser uma saída boa para ignorar situações que possam nos abalar mentalmente. Ainda acho que meu melhor momento para isso é pedalando com a brisa do mar e uma boa trilha sonora, por isso as músicas no final dos posts…

Depois do câncer aprendi a não fantasiar a vida, que não podemos acreditar em “conto de fadas”. É fácil se apegar a uma expectativa, um sonho de que teremos uma vida sem influências externas que não dependem de nós. A vida não nos trará a felicidade numa bandeja sem cobrar os 10%. A felicidade vem de dentro, só depende do que fazemos por nós mesmo e quanto mais trabalharmos esse interior, mais sólidas serão nossos alicerces para aguentar as ironias do destino. É só mais uma nuvem passageira… “Não tenha medo do caminho, tenha medo de não caminhar”

Tenho vivido sem olhar muito para dentro. Talvez seja hora de desacelerar, firmar a base….