D126
D126,
está tudo indo bem, finalmente melhorando da gripe de alguns dias atrás. É engraçado, antes uma gripe não durava uma semana comigo, essa me derrubou por mais de 10 dias. Acho que vou me associar com alguma marca de lenço de papel (se conhecerem algum contato me indiquem), pois devo ter gastado umas 10 árvores assoando o nariz… Essa semana fiz uma tomografia que mostrou um “discreto aumento do pericárdio, agora em moderada quantidade, resolução do derrame pleural e resolução das atelectasias restritivas em ambos os lobos inferiores e resolução das opacidades nodulares e das outras em vidro fosco esparsas por ambos os pulmões, etc”. Coloquei o “etc” senão passaria das 1000 palavras usuais. Costumo dizer que a ignorância é o melhor rémedio. Olhando esse resultado se você não sabe o que é da para levar a vida tranquila sem se preocupar…
Mas vou explicar senão vão me encher de mensagens perguntando (né dona aline?) (aposto que ela não vai ler e vai me perguntar de qualquer forma. Não é nada demais, tem um vestígio do vírus da gripe nos brônquios e a parte mais chatinha é que estou com líquido perto do coração numa quantidade moderada como diz ali em cima. Tratamento? apenas observar a evolução pois não está atrapalhando o funcionamento do coração.
Convenhamos que nessa altura do campeonato pouca coisa assusta. Esses dias, li um texto que uma amiga colocou (colocarei lá embaixo). Me fez lembrar de muita coisa durante o tratamento, mas nada de sofrimento nem dor. Levei muitas coisas boas desse tratamento, mas acho que uma das mais importantes foi que a vida não é tão séria quanto acreditava que era. Antes do câncer nunca abri mão de “viver”, mas levava certas coisas a ferro e fogo. E reconhecer isso foi fundamental para o meu tratamento (e por que não para o que resta da vida?). Enxergar a vida como algo não-sério me deu a oportunidade de brincar, de ver graça nas coisas, de sorrir mais. Acredito que isso me fez perder o medo do sentir como disse da outra vez. Sem medo de errar e sem me preocupar em acertar. Não sei quantos podem dizer que levam uma vida sem pressão, temporariamente estou levando a minha, buscando a minha felicidade aos pouquinhos mesmo tendo algumas pequenas pedras no caminho. Todos nós estamos em busca da nossa felicidade, temos esse direito. E não importa a cultura, filosofia (blábláblá wiskas sache) é o que qualquer um busca.
Sem me sentir pressionado “cansei” (abusei) de brincar e usar a doença (os mais próximos sabem disso). Pego fila preferencial em mercado, banco, taxi (coloco a máscara e se quiser ainda mostro o cateter), votei e furei uma fila gigante. Teve uma vez que uma senhora, bem senhorinha estava na minha frente na fila preferencial e virou pra mim e disse “pode passar meu filho”. Não passei é claro! respondi que ainda não estava morrendo e que aguentava esperar um pouquinho.
Contaria todas as piadas e brincadeiras mas pouparei vocês. Mas tem gente que se incomoda e chama minha atenção por “usar” a doença. Caguei, a doença ERA minha. Era o que me divertia e me fazia bem. Era minha muralha no caminho e não tinha o que fazer, fez parte da minha vida. Por mais que muitos digam que estou curado, sei que não é bem assim que a banda toca (deixando claro que não estou sendo pessimista). Quem já teve câncer vai me entender. Vivemos com a sombra da doença, todo hemograma o olho vai parar direto na quantidade de blastos. É inevitável, esta na trigésima quarta linha. E brincar com ela é o que me deu força. Tirou essa pressão das costas. Alguns acham que eu deveria virar a página e parar de usar a doença, mas quem viraria uma página sabendo que ela pode voltar em até 1825 dias sem contar os anos bissextos. Já foram 126 (de novo) e vou fazendo disso uma brincadeira… sem preocupações ao máximo. Então um líquido perto do coração a gente tira de letra, sorrindo. Só não da para sorrir com as pedras no rim, pelo menos não enquanto faço xixi (costumo falar mijar mas por educação usei o xixi).
Bem, o texto para os fortes que leram 725 palavras já:
“De repente tudo vai ficando tão simples que assusta. A gente vai perdendo as necessidades, vai reduzindo a bagagem. As opiniões dos outros são realmente dos outros, e mesmo que seja sobre nós, não tem importância. Vamos abrindo mão das certezas, pois já não temos certeza de nada. E isso não faz a menor falta.
Paramos de julgar, pois já não existe certo ou errado, e sim a vida que cada um escolheu experimentar. Por fim, entendemos que tudo o que importa é ter paz e sossego, é viver sem medo, é fazer o que me alegra, o que me faz bem, o que me faz feliz. É só.”
Malu Moreira
819, me contive rs
Sempre me surpreendendo, para o bem, com seus textos muito bem escritos e explicativos. Eu sorrio e as vezes choro lendo. Tento me colocar no seu lugar e não consigo ter dimensão do que vc passou e passa e nem sei se teria toda essa forca. Sou uma pessoa estressada, vezes mal humorada, com uma vida super corrida mas quando leio o que vc escreve procuro me mudar a cada dia. As vezes os problemas dos outros nos fazem enxergar que da para melhorar, fazer diferente entanto eh tempo. Nao sei se faz sentido mas fui escrevendo o que veio a mente, sem pensar muito, sem ponto nem virgula… Enfim, muito obrigada. Sua estória esta mudando a minha vida, e acho que de outras pessoas tb
Era n..é sua e o q vc acha? Se n perdeu nd pq procurar?o q se leva da vida…é a vida q se leva…viva
Era n..é sua e o q vc acha? Se n perdeu nd pq procurar?o q se leva da vida…é a vida q se leva…viva….