D1115 e D1360 Dia de Seu João

D1115 e D1360 Dia de Seu João

17 de março de 2018 0 Por Daniel Campbell

Bom dia amigos! As notícias de saúde seguem bem e hoje venho escrever por causa de um momento atípico na minha vida. Como vocês sabem precisei de dois transplantes. O primeiro fiz em junho de 2014 através de um doador até então anônimo. Tive a recaída 2 meses antes e foi ali que começou meus “desabafos” através do facebook. Sobre o doador tinha poucas informações. E há um tempo atrás descobri quem ele era graças ao Redome e a vontade dele de saber para quem ele havia doado. Essa quinta-feira o João chegou ao Rio com sua esposa.

Hoje tivemos um belo dia por aqui. Passeamos por alguns lugares que confesso ser fã. Não sou muito bom para palavras. Por mais que não pareça tenho uma dificuldade em me expressar muitas vezes. E por aqui acaba sendo mais fácil. Sou muito grato por esse gesto nobre do João que me permitiu estar aqui por mais dias. Então por aqui talvez eu consiga explicar o que esse gesto mudou em minha vida.

Posso começar dizendo que não mudou minha vida, mas deixou ela continuar. E continuar sob uma nova perspectiva. Há muito tempo venho compartilhando os momentos que considero mais importantes desse segundo tempo da minha vida. Quando entreguei em remissão pela segunda vez foi a primeira vez em que perdi o medo de viver ou de morrer. Foi ali com a doação do João que a sombra do câncer se dissipou com a luz da alegria da remissão. E a vontade de viver era tanta que sobrava dentro de mim e fazia questão de dividir um pouco dessa alegria com todos que vibravam com cada nova conquista.

No início ainda estava bem debilitado e com as restrições de sair de casa então buscava a alegria da conquista nas coisas mais simples. Hoje posso contar… em SP o prédio ao lado do meu tinha um pé de amora perto do muro… (acho que não preciso contar o resto). Ficar na praça vendo os sabiás era uma conquista única. João ao me salvar do câncer me abriu os olhos para procurar coisas boas na vida. E até as mais simples me passavam uma sensação única de felicidade que me fazia querer vir correndo para dividir com vocês por aqui pois não sabia expressar de outra forma com ninguém, nem com meus pais (ainda trabalho nisso).  Obrigado João por compartilhar essa compaixão enorme e me permitir aprender a amar minha vida e cada detalhe novo dela inclusive vocês.

Sempre pensei demais antes de algumas situações da minha vida. Aquele receio de arrependimento que bate a nossa porta antes de tomarmos uma atitude que pode mudar o rumo das nossas vidas. Ficar “entre a cruz e a espada” sempre foi um dilema. E entendi que independente do que eu escolhesse a dúvida da opção correta sempre ficaria no ar. Parece clichê, mas aprendi a seguir o coração. O coração falou mais alto que aprendi a ser grato por tudo de novo que essa continuação da vida estava me proporcionando. Olhar para as coisas mais simples como as orquídeas da rua debaixo, da praça, das visitas e sentir meu coração vibrar daquela forma me faziam ter a certeza que ali era o lugar e nada poderia ser diferente.

A escolha do mestrado me fez retornar ao mais próximo possível da minha velha vida. Foi minha escolha para começar e assim como nas coisas simples meu coração vibrou igual. Me joguei sem medo de arriscar. Confiei na minha busca da felicidade e passei a idealizar o que eu queria de mim. Um filme na cabeça sobre o que eu espero de mim. Curado, feliz, relaxado e me divertindo. E essa idealização começou lá trás ao ganhar essa nova oportunidade de viver.

Ainda busco as coisas simples. Através do por do sol, dos canários amarelos lá perto de casa, dos burrifos das baleias no pontal, dos momentos com os amigos. Sei que vivo de mudanças, mas hoje (apesar dos pesares) me sinto agradecido por chegar aqui e poder desfrutar de tantas coisas que poderiam ter acabado lá trás. Entender que a vida tem muitos fins e novos recomeços é gratificante demais. Saber que o dia ruim só será ruim se permitirmos é relaxante. E o por do sol me faz lembrar que o dia não foi tão ruim assim e essa decisão é apenas da nossa mente, independente do que aconteça. Seja meu fêmur ou coceira que as vezes aparecerem para dar um oi, ou até o medo do pior. Estar consciente dessas possibilidades me permitem me jogar de cabeça nas minhas escolhas.

Como gosto de parafrasear… me encantei com a nova vida e esse encantamento “torna as coisas fáceis quando a vida fica difícil”. Hoje sinto que esse quebra-cabeças de incertezas está quase completo, sem dúvidas para ser o que eu quero ser. Saber meu motivo para levar uma vida mais leve me trouxe aqui. Tenha um motivo também… as coisas serão mais fáceis…

João me deu tempo para entender o valor do tempo que a vida nos oferece. E me dar a chance de aprender essa lição não tem preço… Obrigado São João! Um brinde aos D1360 dias de vida a mais!

“Vou reerguer o meu castelo/ Ferro e martelo/ Reconquistar o que eu perdi/ Eu sei que vão tentar me destruir/ Mas vou me reconstruir/ Vou está mais forte que antes. Quando a maldade aqui passou/ E a tristeza fez abrigo/ Luz lá do céu me visitou/ E fez morada em mim/ Quando o medo se apossou/ Trazendo guerra sem sentido/ A esperança aqui ficou/ Segue vibrando/ E me fez lutar para vencer/ Me levantar e assim crescer” (Não é essa a música, mas escutei ela durante essa viagem de Arraial e me apeguei a esse trecho. Quis dividir com vcs)

Não encontrei a música legendada em português, só com legenda em espanhol. Embaixo do vídeo vou deixar um link com a letra e tradução!

 

https://www.letras.mus.br/soja/gone-today/traducao.html