D1105 mais um “dia de sol”

D1105 mais um “dia de sol”

11 de março de 2018 0 Por Daniel Campbell

D1105

Queria dividir com vocês hoje um momento que eu aguardava sem ansiedade chegar. Era para ter escrito na quinta mas não parei até agora. As notícias sobre a saúde continuam iguais, só o fêmur que está dolorido, mas sei que abusei dele nas últimas semanas.

Em 2016 quando completei um ano de transplante e um ano de remissão fui autorizado a voltar para o Rio. Como alguns sabem sou biólogo e sabia que a marinha iria abrir o mestrado em Arraial. Fiz de tudo para conseguir voltar e tentar o mestrado. Afinal, lá na marinha de Arraial foi aonde comecei minha vida acadêmica que foi temporariamente deixada de lado.

Não era apenas cursar o mestrado. Voltar para o Instituto representava muito dessa longa trajetória. Foram muitos desafios pós-câncer que muitos de vocês acompanharam por aqui ou ao vivo nesses últimos 2 anos pós TMO. Rejeição da medula na pele que parece estar querendo me abandonar finalmente. Osteonecrose que me deixou na cadeira de roda por uns meses e duas muletas de herança. Durante o ano de 2016 até abril de 2017 viagens mensais para tomar uma semana de quimio em SP. Depois viagens para SP para consulta e lavar cateter. Foram momentos difíceis, mas sempre tive os meus pais para ajudar a superar esses desafios. Esses foram alguns dos meus desafios pessoais para superar. Ainda houve os desafios acadêmicos que também foram muitos.

Mas por que desafios? Poderia chamar de problemas. Como sabem que guardo as frases prontas para vocês, um dia li que “Um problema só é um problema quando você pensa que é um problema”. Realmente a cadeira não foi nada fácil, mas não deixei que ele interrompesse a minha alegria de me despedir da leucemia. Aprendi algumas valiosas lições desses desafios que não foram fáceis de serem aceitos, mas foram superados.

Quando comecei a escrever, o primeiro desabafo foi cheio de lamentações e por conta do apoio de todos desisti de me lamentar. Entendi que a lamentação não me faria sair do lugar e passei a dividir com vocês as boas lições de vida ganhadas com esses desafios.

E depois de tantos desafios e lições de vida essa semana eu caí da árvore. Defendi o meu mestrado. Sou terrível para falar em público, uma conversa a dois é bem mais fácil. Mas eu estava tão satisfeito e feliz por estar ali que minha única vontade era de dividir com todos que eu consegui. Não havia nervosismo nem ansiedade na hora. Apenas uma felicidade de estar entre pessoas queridas que me apoiaram do início até aquele momento (pensei escrever do início ao fim, mas o fim ainda está distante). E sentir a felicidade dos que me apoiaram por eu estar ali é algo difícil de explicar. Junta a felicidade alheia com a minha e vira uma bola de neve que passa por cima de qualquer pedra no caminho. Acho que nunca falei em público tão calmo na vida. Pois como um Dr. da marinha disse, eu estava entre amigos. Não havia o que temer.

Essa conquista me ensinou não apenas sobre Biotecnologia marinha, mas também sobre essa maneira leve de levar a vida. Aprendi que minha maturidade e a alegria são mais fortes que meus problemas. Esses desafios me trouxeram aqui de forma muito melhor do que um dia eu pude imaginar. Finalmente ao cair da árvore comecei a colher os frutos da vida. Passar por todas essas adversidades e ter tantos que vibram pelas minhas alegrias é um baita presente. Talvez por isso estivesse tão bem no dia. Não poderia ser diferente depois de tanta luta para chegar ali diante da banca avaliadora de amigos. Pois não estavam apenas para me avaliar, mas para celebrar essa dura conquista.

A necessidade de sair de SP para retomar minha vida antiga era meio óbvia. Queria deixar a doença para trás e associei por muitas vezes ao local que morava. E voltar para Arraial era uma sensação boa, pois lá vivi anos dourados entre muitos amigos e fazendo o que sempre amei. Agora com a conquista do mestrado entendi que o meu “lar, salgado lar” vai muito além da cidade. Hoje virei um nômade e me sinto em casa até em SP quando encontro meus bons amigos feitos nas condições mais adversas possíveis. Aprendi a desfrutar a sensação de lares aonde quer que eu vá. Existem “dias de sol” em qualquer cidade.

Saber que havia tanta torcida por minha felicidade me trouxe uma paz. E arrisco dizer que aumentou mais ainda a minha própria felicidade. Se pudesse medir pediria ao meu coorientador (matemático) para calcular o quanto a torcida de cada um aumenta a minha felicidade e tenho certeza que seria numa função exponencial.

Fazer parte dos pedidos, preces, orações, torcida, pensamento positivo, admiração de cada um comprova que eu deveria estar aqui e que não poderia ser diferente. Vocês me deram uma força e coragem para superar meus desafios que talvez vocês mesmo desconheçam. E minha alegria ao ver vocês felizes pelas minhas conquistas talvez seja maior que a minha própria alegria pela minha conquista.

Hoje sou um mestre em Biotecnologia Marinha (serei quando entregar a dissertação hehe), mas nesses dois anos o melhor aprendizado foi dividir todas as alegrias com vocês. Finalmente amadureci um pouco… e percebi que tenho tudo o que preciso aonde quer que eu esteja. O amor de tantas pessoas manifestado de diferentes maneiras me faz estar em casa seja com o desafio que for. Obrigado por acreditarem e fazerem ser muito mais fácil me levantar após cada pedra no caminho!

Se fosse colocar o agradecimento da minha dissertação aqui seria uma página a mais de texto… Por conta do mestrado hoje meu agradecimento vai as pessoas do Instituto que me conheceram em 2007 e aos novos e bons amigos que torceram e acreditaram em mim apesar de tantos desafios que eu tinha pela frente.

Edu, Fábio, Bira, Nilce, R. Gaelzer, Leo, Jurema, Beth, Eliane, Karen, Wanda, Wlad, Isa, Flávio, Rogério, Jorjão, Aílton, Marcelo, Ricardo C., Guga, Zé (Policarpo), Zé Bola, Laís, David, Thiago, Nara, Aline, Bruno IEAPM, Debora, Matheus, Paulo, Lu, Sara, Lucas, Rodrigo, Fernanda, Simone, Gui, Eduardo G., Bruno USU Ju Ferrari, Ten. Bia! Obrigado por tudo! Só tenho a agradecer cada um de vocês por fazerem parte dessa nova etapa da vida! (Desculpem se deixei alguém de fora, ainda estou um pouco exausto desse final de curso).