D1029
Bom dia amigos,
Havia dito que aquele seria o último post do ano e inclusive desejei feliz natal para os que leram. Não vou me repetir sobre o estado de saúde pois nada mudou. Mas esses momentos que consigo ficar um pouco sozinho acabo tendo um “brainstorm” (tempestade de idéias) sobre as coisas que acontecem na nossa vida que nos trazem para o momento de agora.
É diferente de remoer o passado. São pensamentos que me fazem refletir como parei aqui com o pensamento que tenho hoje. Digamos que é praticamente uma retrospectiva do que aconteceu e fico refletindo sobre isso, seja por conta alguma música que me faça lembrar ou qualquer coisa assim.
Acredito que a conclusão sobre minha vida antes, durante e pós leucemia é bem longa para resumir em poucas palavras. Mas acredito que todos nós buscamos um significado para a nossa vida. Todos queremos tornar ela significativa. E o objetivo maior de todos nós, é ser feliz, isso é inegável. Nascemos todos para sermos felizes (de preferência sem sofrimento).
“Como ser feliz com tudo isso que acontece?” Acho que sei bem aonde começou esse meu pensamento sobre felicidade, na época ele ainda não estava tão bem lapidado como hoje. Mas ali exatamente aonde começou. Dia 14 de abril de 2014, o dia da primeira recaída, o dia do primeiro post aonde dizia que havia desistido dos meus planos. Foi meu primeiro desabafo no facebook e sei que fui radical demais. Mas como dizem “o tempo é o melhor remédio”. E com o tempo fui entendendo que em partes eu estava errado na minha busca pela felicidade.
Óbvio que qualquer pessoa que receba o diagnóstico de câncer não vai sair soltando fogos e dizendo que está feliz. Fiquei infeliz sim como qualquer mortal ficaria. E fiquei infeliz pois acreditava que todos aqueles meus planos e desejos não poderiam mais ser realizados. E essa sensação de impotência em relação a desejos me deixou mal por alguns muitos dias, mas com o passar dos dias e dos desejos passei a entender que não precisava deles para continuar sendo feliz. Abri mão de todos, pode ter certeza que abri mão de todos os sonhos e planos pois realmente havia desistido de sonhar. E essa radicalidade do pensamento não lapidado gerada pelo meu orgulho de querer ser forte e não chorar de tristeza me mostrou o único desejo que eu poderia ter ali na cama do hospital.
Algum dia talvez outros planos surgissem, mas durante aqueles dias o maior, na verdade único, desejo da minha vida era continuar vivo. Estava todo ferrado com todos os efeitos colaterais das quimioterapias, mas estava vivo. E como não ser feliz se eu estava realizando meu único desejo.
Enquanto eu estava no tratamento comecei a conhecer várias pessoas em tratamento de mil doenças diferentes e foi aonde me tornei mais feliz ainda. Meu sentimento de compaixão desabrochou. E cada conquista que eu via de algum conhecido era motivo para eu ficar mais feliz ainda mesmo na cama do hospital. Pois sabia quanta alegria e paz aquela notícia estaria levando para todos a sua volta. A cada novo doador que se cadastrava por doar medula era mais felicidade na minha vida, não por mim apenas. Sabia que em algum momento esse novo doador iria levar a paz para alguém e não pode haver felicidade maior do que realizar o único desejo de alguém que apenas quer viver e nada mais. Talvez por isso tenha sido fácil ser feliz e sorrir (quase) sempre convivendo com o câncer, pois todos meus desejos estavam realizados.
Me desapegar dos meus desejos e sonhos de forma tão radical naquele dia julgo, hoje em dia, como um mal necessário. Aqueles sonhos ficaram para trás e esquecer deles me ajudou a entender que o melhor da vida estava ali e está no “aqui”. A lição do “não chorar pelo leite derramado” é exatamente essa. Precisei de 3 leucemias para entender uma frase tão besta e tão necessária para buscar a felicidade. Posso ainda não saber todos os caminhos para a felicidade, mas sei que me apegar ao que poderia ter acontecido ou há algum sonho muito distante não será o caminho.
Nos tornamos disponíveis para a vida e passamos a aceitar o rumo que ela tem para oferecer. De nada adiantaria relutar contra o que ela trouxe para mim. Foi demorado e testou muitas vezes minha paciência sim, mas sabíamos que algum dia iria acabar. Acho que a confiança traz um pouco dessa sensação de que tudo acontece exatamente como deveria acontecer, afinal “Deus escreve certo por linhas tortas”. Um caderno de caligrafia iria bem para rescrever nossas vidas.
imagem de @umanordestinacitou
Como sinto sua falta. Você foi embora tão rápido e nem pude me despedir. Tenho tanta saudade de você. O que me acalenta é que você está com seu avô, sua avó e seu tio. Toma conta deles. Vocês foram rápidos demais. Te amo meu filho. Até um dia.
Como sinto sua falta. Você foi embora tão rápido e nem pude me despedir. Tenho tanta saudade de você. O que me acalenta é que você está com seu avô, sua avó e seu tio. Toma conta deles. Vocês foram rápidos demais. Te amo meu filho. Até um dia.