D 910 momentos

24 de agosto de 2017 1 Por Daniel Campbell

Bom dia amigos,

Estou novamente há algum tempo sem dar notícias. Acho que desde a última internação. Falando nisso já sai do hospital tem bastante tempo. A saúde vai bem. Não é aquela Brastemp mas está quebrando o galho. A pele está melhorando lentamente, sem tanta coceira. O fêmur continua sendo o fêmur de sempre. Por conta do tratamento da pele tomo uns remédios bem fortes para o estomago. Sempre tive pontualidade britânica para ir ao trono, mas acredito que por tanto remédio fiquei meio preso. Já sabia que poderia acontecer e voltei a tomar umas doses de nujol, cabe no copinho de cachaça certinho. Agora o que não haviam me avisado é que o oxsoralen (remédio que tomo antes da cabine de bronze) podia causar ulcera ou herpes entre outras mil coisas que estavam na bula. Como se não bastasse a azia e enjoos ainda fui premiado com uma herpes. E quando você pensa que é tranquilo eu digo que foi na ponta da língua. Tanto lugar na boca para ter, por que na ponta da língua? Passei o início da semana sem conseguir falar direito e sem comer. O médico pediu uma biópsia da lesão e conheci um dentista aqui no rio especialista em transplante. E mais uma dúzia de remédios. A preocupação da biópsia é para saber o que realmente é a lesão e descartar a chance de ser a rejeição da medula na boca. Já tenho ela na boca em um grau muito discreto. Mundo estranho esse que parei, agora fico feliz por ter herpes sabendo que poderia ser rejeição.

É complicado essa história de pós transplante. Todo o tempo vem alguma surpresa. Na verdade, já deixou de ser surpresa pois sei que mês sim mês não alguma coisa acontece com minha saúde. Comparei muito as minhas emoções como se fossem uma montanha russa com altos e baixos. Já entendi que vai ser sempre assim com picos de alegria e picos de passagem lá na tristeza. Também já entendi que esses momentos irão sempre existir e que se soubermos aproveitar eles os picos de alegria serão mais valorizados. Juro que até aprendi a valorizar esses momentos ruins. Só que ao invés de montanha russa de emoções e momentos minha vida virou um ioiô, ou um bungee jump sei lá. Quando estou mega feliz vem uma porrada e me joga lá embaixo. Paro de fazer minhas coisas para cuidar da saúde, fico bem e já estou lá no alto pulando de alegria vindo para Arraial, saindo com amigos. E não demora muito e a gravidade que também sempre vai existir joga o ioiô lá para baixo.

Parece uma desgraça, né? Mas hoje fiquei pensando que sempre vai funcionar assim com altos e baixos no estilo de ondas. Sabendo disso imaginei uma maneira de ficar muito lá no pico da alegria. Será que tanto o tempo lá no vale da tristeza seria compensado pelo tempo lá em cima? Ficar tanto tempo mal pensando em quanto a vida é ruim não me pareceu interessante. E passei a gostar do meu ioiô. Sei que todo mês vem alguma nova, e não adianta falar que estou sendo negativo. Sou apenas realista sobre minha imunidade atual. Mas apesar dos pesares eu consigo chegar na superfície e dar uma respirada profunda e com sorrisos recarregar o mental para o próximo mergulho.

Vou desenhar para a galera entender (rs):

Essas são as ondas das minhas emoções. Sempre vou ter o momento que fico lá em cima e momentos lá embaixo. Se eu ficar na da esquerda que parece com minha vida atual terei apenas breves momentos lá embaixo. Trabalho a minha aceitação de condição de vida atual, “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. Só que se eu ficasse na onda da direita teria momentos fantásticos de alegria que seria muito bom, óbvio. Mas será que eu aguentaria ficar lá embaixo por tanto tempo? Talvez muito tempo lá na alegria constante fizesse ela cair na rotina. E todos sabemos que tudo que cai na rotina perde a graça. Tanto tempo lá na alegria talvez fizesse com que não déssemos o devido valor de estar no topo da alegria. E tanto tempo no vale quem sabe não criássemos raízes e por lá ficaríamos.

Hoje aceitei essa condição de altos e baixos. Sem rotinas. Sempre descendo até onde meu pulmão e mente aguentam, mas sempre dando uma subidinha para respirar e recarregar. Tive várias ideias para explicar esse movimento de ondas mas acho que esse foi o mais simples de entender.

Entendi nesse longo processo de momentos alternados que se eu estiver disponível e aceitar o que está vindo com o máximo de leveza possível e o mínimo de seriedade necessária as coisas ficam menos sofridas e por que não mais divertidas? Não deixo de dar atenção para as coisas importantes que estão acontecendo. Apenas perdi o medo de tropeçar. Outra comparação que talvez seja mais fácil e não precise de figura. Quando uma criança tropeça e cai, dá aquela choradinha e levanta rindo de si mesmo e volta a brincar. Talvez se olhássemos a vida com esses olhos entenderíamos que o que passou, passou e o amanhã ainda vai chegar. Se ficarmos pensando no tombo de ontem quando olharmos o hoje ainda estaremos sentados. E se cairmos e ficarmos pensando no amanhã estaremos apenas nos iludindo.

“…Aceite com sabedoria o fato de que o caminho está cheio de contradições. Há momentos de alegria e desespero, confiança e falta de fé, mas vale a pena seguir adiante…”

Sem revisão hehe