D??? 5 de março
D???
Desde já peço desculpas por não saber o dia D que estamos e pela preguiça de fazer as contas. Quanto a saúde, continua tudo em ordem. Os exames estão todos bons. Acabei mais um vidaza na sexta e ontem dia 5 voltei para o rio. E dessa vez é definitivo.
Continuo indo em São Paulo uma vez por mês (5 dias) para tomar o vidaza e consultas médicas. E já estou morando no Rio de novo desde ontem. Não sabia muito o que escrever no D365, pois a volta ainda era incerta. Mas agora com os pés aqui já posso dizer que voltei. Alguns me perguntam se é vida normal de antes, então vou matar vários coelhos com uma cajadada só por aqui. Continuo com aquelas restrições de antes. Nada de ambiente cheio e fechado, comida crua, camarão, sol, blablabla wiskas sache.
Finalmente a sensação de um ciclo encerrando que não senti no D365. Esse dia 05 de março entrou para minha história. Um dia que meu olho ficou lubrificado com gotas salgadas quase que o dia inteiro. Ao sair do apto de SP e olhar a casa vazia já senti que precisaria de lenços para o dia. No avião, sentir aquela sensação de ansiedade por algo novo que me aguarda e saber que serão cada dia menos voos me fez sentir as borboletas na barriga e olhar para o alto para não escorrer nada dos olhos.
Ao desembarcar, não sei porque me veio uma história muito antiga da minha família. Sei lá quantos anos tem, acredito que uns 20 por ai (nessas horas que meus cabelos brancos me lembram da minha idade). Acho que todos da família lembram disso. Estávamos voltando de quase um mês de viagem e no nosso voo tinha a Xuxa (é, a Xuxa), na época famosa ainda e tal… E aquele tumulto para verem a Xuxa e nossa família do lado de fora esperando a gente desembarcar. Uma prima minha que não tenho os direitos para citar o nome dela estava chorando desesperada quando a Xuxa saia. Então a Xuxa pegou ela no colo achando que iria acalma-la e ela falou que não queria a Xuxa e sim seus primos (Não sei se foi bem assim, é o que me contaram). E aquele momento do avião até a bagagem fiquei pensando naquela recepção de “bem vindo”, mas sempre olhando alto para nada escorrer dos olhos. Cheguei a olhar para a porta e ver a imagem do que havia acontecido no passado. Nessas horas que a gente se pega rindo sozinho. Foi boa a sensação. E para quem não sabe dia 5 também é aniversário do meu irmão. E lá foi ele buscar a gente no aeroporto.
A vontade de chegar em casa, olhar para minha cama e ela me olhar e a gente namorar era enorme. Queria chegar em casa deitar e descansar pois o dia seria corrido, meu primeiro dia como morador do rio novamente com niver de criança, niver do irmao, niver de amiga seria cansativo. Chegamos finalmente no prédio e a esposa do meu irmão esperava a gente para subir com as malas (detalhe 9 Kilos de cabide). E a gente repleto daquela sensação de lar doce lar. Quando abrimos a porta as 8 da manhã de sábado tivemos a recepção de 20 anos atrás em casa. Isso que é família, as 8 de sábado não é qualquer família que você encontra não. E no abraço de cada um que a ficha vai caindo de verdade e fica difícil segurar a emoção. Engraçado que vejo tanta gente querendo ser racional… quando o emocional é muito mais saboroso. Sobre eu passar 24 horas acordado e na agitação vou pular por conta do Dr Ricardo.
É… Quem diria! Um ano e alguns quebrados em SP e mais um ano e pouco do diagnóstico. Arredonda ai para 3 anos. Sempre escutei coisas do tipo “nossa, como passou rápido”, mas não foi bem assim. Demoraram a tal ponto que hoje em dia já tenho o jeito de dar um “beijo” igual a paulista. Contudo, todavia, entretanto, biscoito sempre será biscoito. Sempre tive um preconceito contra a cidade, mas esse tempo todo lá me vez perceber o quanto a cidade é boa, só falta uma praia.
Sei que foram momentos difíceis e alguns terríveis, mas poder e tentar desfrutar sempre algo bom das coisas me trouxe aqui. Hoje em dia falo relaxado sobre tudo o que passou talvez porque já estou em paz com isso. Nesses três anos de gestação para viver essa nova vida a gente passa a observar tudo de uma forma diferente. E ter essa oportunidade de enxergar a vida dessa maneira é um tanto quanto gratificante. Poder estar radiante de alegria hoje foi fruto do que passei. E a gente passa a entender que esses momentos de escuridão são tão necessários quanto os de claridade. É um aprendizado único que realmente só quem se envolve a fundo percebe. Tenho um amigo de seus 40 anos e pouquinho que sempre brinca dizendo que eu com 30 tenho mais experiência de vida do que muitos juntos. Mas acho que o mais importante disso tudo foi mudar algumas perspectivas de vida. Precisei de um estalo (a leucemia) para mudar certas ideias.
Sempre fiz muitas projeções da vida. Acredito que seja algo que todos façam. Algo até normal. Lembro do post que disse que não queria mais sonhos e muita gente “puxou” minha orelha. E essa mudança de perspectiva foi justamente nesse sentido. Podemos projetar coisas maravilhosas, sonhos, planos como também podemos fazer projeções de coisas ruins. E deitado lá na cama do hospital acho que o normal seria que viesse algo ruim na cabeça. Como algumas horas vieram. Mas boas ou ruins são apenas coisas imaginárias.
Estar consciente de tudo e bem esclarecido sobre a doença foi o que me fez parar de projetar algumas coisas. A gente sempre enxerga o que nos é cômodo, o que nós queremos ver. E passei a sonhar apenas com a minha recuperação. Era o único ponto imaginário que me permiti sonhar. O resto primeiro precisava passar pela recuperação para chegar nos próximos planos. Boas ou ruins as projeções, elas são tantas na nossa vida que esquecemos do real, do agora. E foram três longos anos esperando o “agora”. E viver a realidade faz a gente mudar muitas coisas e planos. Uma vida nova, por que não novos sonhos?
Aos forte que chegaram aqui desculpem o tamanho. Foi para compensar o D365.
Sem revisão (erros de português no inbox)
Boa noite
Gostei muito do seu comentário no seu site.
Abraços!
Blogueira Shame no Intelimax IQ
obrigado alice!!! 🙂
abraçaod!!!
Suas palavras no momento certo, estou passando tudo isso com meu filho adolescente 14 anos. Obrigada Daniel, você não imagina o quanto nós dá forças.