D 307 ano novo vida nova
D307
Ia escrever no D300 por ser um número mais legal, mas devido as festas só consegui parar agora para escrever. Já me sinto meio médico imaginando os diagnósticos para as coisas que tenho. Comecei a correr uns dias atrás e veio uma dor absurda no joelho e tornozelo. Fiquei pensando que fosse por conta das medicações, enquanto alguns falaram que foi porque forcei na corrida. Fiz uma ressonância magnética e mostrou uma fratura incompleta no joelho. No exame de quarta as plaquetas deram uma subidinha discreta que me liberou para viajar para o natal no rio…
Acho que o médico ficou com pena na verdade e liberou. Pediu para eu apenas não fazer esforço com o joelho. Era meu presente merecido de natal e ano novo. Lembro bem do último natal e ano novo que passei internado. Foi um clima difícil, de muitas novidades da doença ainda surgindo. Sobre qual tratamento seria feito e as coisas acontecendo. Mas como dizem: “ano novo vida nova”…
Esses dias lembro que falei sobre sermos únicos e esse ano acho que agradeço a isso. A todos que passaram de certa forma (única) na minha vida. Os que já existiam passei a olhar com outros olhos e aos novos aprendi a dar um novo valor as novas amizades.
Sempre levei tudo de uma forma bem tranquila depois que a ficha caiu. E poder enxergar todas as possibilidades me permitiu ver o que o mundo tem para oferecer. Talvez por ver o que eu poderia estar abrindo mão caso acabasse por ali. Por aceitar isso relaxei e fiquei a vontade. Não digo que achava que iria morrer nem nada disso. Apenas sabia dos riscos. Afinal a única certeza da vida é a morte. E sentir ela de perto faz a gente parar para pensar. O que haverá do outro lado do muro? E dai entram todas as religiões e cada um com a sua. Mas faz a gente pensar muito em quem está aqui com a gente. Acho que isso foi o que mais me dava medo, em abrir mão de viver com as pessoas a minha volta. Não era o que eu deixaria de fazer, nem meu futuro profissional, nem viagens, nem o vasco, mas as pessoas que conheço.
Vivenciar tudo isso, conhecer amigos novos (os que passaram por isso também), me fizeram perceber o quanto damos valor a nossa liberdade quando ela nos é tirada. Passamos a perceber que as vezes nós mesmo nos engaiolamos talvez como mecanismo de defesa ou algo assim. Talvez nem exista essa gaiola, ou a porta sempre estivesse ali aberta e nosso receio do que tem do “outro lado do muro” nos segure ali dentro. Demorei para entender isso até aceitar tudo da forma que foi. Acho que é natural se sentir um pouco em choque. E é bem estranho administrar esse abalo com a sensação de vivenciar isso tudo junto. Alguns desses amigos já se foram, mas sempre serei grato pela experiência vivida. Grato pelo exemplo que tive de todos (não apenas dos doentes), mas por cada gesto de carinho, solidariedade, luta. Cada gesto desses me ajudou com aquela luz no fim do túnel de esperança para me encontrar. A todos que diziam para eu seguir em frente. (e a todos que diziam que “já está acabando”, apesar de eu odiar essa frase rs).
De alguma forma toda essa energia provocou um anseio dentro de mim para abrir os olhos além da gaiola. Deixar todos entrarem um pouco no meu mundo foi bom de certa forma. Toda essa receptividade nunca será paga. Até no meu silêncio ter vocês perto foi importante.
Esse ano foi muito importante para mim. Tive que passar por esses momentos todos para perceber que vocês são “a coisa” que mais me importo em “perder” e que sempre estiveram ali comigo mesmo quando eu estava eu quis ficar quieto.
Feliz ano novo para todos! que nesse ano novo possamos ter mais momentos juntos… Obrigado a todos por sempre estarem aqui comigo! e aos que se foram sei que estão nos olhando de alguma forma.
Vc é um guerreiro. Seu exemplo de viver ajuda muitas pessoas. Até mesmo aquelas que gozam de saúde, já que percebem o valor da vida. O valor de se ter pessoas e não coisas. Tenho fé na sua recuperação. Torço e rezo por vc. Feliz Ano novo. Feliz Vida nova. Saúde. Saúde. Saúde. Saúde. Paz!