D 1001 noites
Bom dia amigos,
Datas comemorativas não podem passar em branco. Apesar de um dia ter dito que deveríamos celebrar todos os novos dias. Nunca deixei de fazer isso, mas hoje vim dar um “oi” por aqui. Primeiro como já é de costume “breaking news” do tratamento: a pele já foi melhor. Essas últimas semanas a pele piorou bem e na segunda senti aquela crise de coçar que havia sumido e as lesões na pele começaram a ficar mais “altas”. Nada de grave, mas voltei a tomar um remédio bem chatinho pois me deixa com um sono extra. Já foram dezenas de remédios com efeitos colaterais diversos e ainda continuo esperando pelo remédio com efeito colateral de queimar gordura localizada. O fêmur não tem novidade, continua a mesma coisa. Ora dói, ora dói.
Durante muito mais do que esses mil dias comecei a tentar entender o meu lado emotivo e agir muitas vezes pelo racional. São tantas pedras no caminho que o lado racional passou a carregar o emocional depois de tantas quedas. E acho que o maior resultado disso foi colocar minha felicidade em primeiro lugar, na saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza. Aos poucos foi me relacionando comigo mesmo e a cada dia mais apaixonado pela vida.
Aos poucos fui saindo da escuridão do tratamento e a cada dia (D) que se passou fui criando confiança no meu novo mundo ainda desconhecido. Sei que minha maneira de pensar mudou depois de tanto apanhar. Criei minha aventura durante o tratamento, repleta de histórias para contar. E me lançar ao desconhecido durante o tratamento me fez entender que as vezes as coisas mais simples podem se tornar o melhor da nossa vida, nas nossas melhores histórias.
Sempre soube de todas as possibilidades do tratamento e achei por alguns momentos que não fosse chegar até aqui. E mesmo sabendo disso nunca desanimei, apenas aprendi a viver com o que tinha a disposição. Resmunguei sim, diversas vezes que estava cansado. Afinal, não sou de ferro. Só que entendia que não havia para onde correr. Não tinha opção para acabar com minha tristeza fazendo compras em Paris, ou na 23. Fiz de mim diversas vezes o meu mundo. Um certo dia escrevi sobre meu isolamento do mundo. Confesso que ainda sou muito fechado quando o assunto é expressar sentimentos. Mas meu mundo me sustentou e me fez feliz.
Talvez esteja indo além do alcance com minhas ideias. Mas quando digo que passaria por tudo de novo é porque passaria (não vejo uma história diferente para minha vida de imperfeições igual a de todos). Se não fosse a leucemia poderia ser algo pior. Dizem que “pior que está, não fica”, mas vai por mim… fica pior, e as vezes fora do controle. Sei também que é fácil de falar isso pois tive um “final feliz”, mas sei que apesar de estarmos no D1000 ainda tem muita água para rolar. Enrolei e não falei das minhas ideias…
Retomando, hoje em dia sei a resposta para a pergunta que mais escutei sobre o câncer nesses 1000 dias. “Qual foi a coisa mais importante que você aprendeu durante o tratamento?”
Aprendi (fui obrigado) a deixar meus compromissos de lado, deixar minha rotina da vida velha de lado. Fui obrigado a abrir mão de uma vida que até então eu considerava maravilhosa (ainda considero meu passado uma boa história), e desconstruir tudo que eu havia construído. Aceitar toda essa desconstrução da vida passada me fez entender que não adianta eu apenas viver minha vida, mas é uma aventura ao desconhecido. Por isso falo de não ter planos. Planos tenho, talvez não como os seus, mas o desconhecido me seduz. A aventura me seduz.
Essa desconstrução (junto com a aceitação) me permitiu relaxar. Sempre comentei do peso da cruz. A cada dia que eu aceitava essa desconstrução a cruz se tornava mais leve. Ficamos pensando em como se deve viver e isso me dava certa segurança. Estava num emprego bom, tinha ótimos amigos (ainda tenho)… aquelas histórias de uma vida tradicional. Era cômodo, seguro. A vida antes do câncer era quase um “american way of life” (google – além da leucemia é cultura), era uma vida previsível.
Aprender a levar a vida leve, com o sorriso na pior das situações e ser feliz mesmo assim foi o que aprendi durante o tratamento. Por mais que eu não saiba me abrir e algumas vezes essa busca pela felicidade sem saber me expressar possa parecer um egocentrismo acredito estar passando bem longe disso. Apenas aprendemos a aproveitar o melhor dessa sedutora aventura de viver.
Para quem disser que hoje é o D1001, desculpem o atraso, o fuso horário da minha vontade de escrever estava atrasado. Perdi a hora na última aventura…
Música alternativa hoje…
E temos que aprender um dia de cada vez,hoje estou naqueles dias de não querer fazer nada ,ontem foi dia de quimioterapia é 14 comprimidos de mexetrate,mais vamos que vamos ,como vc mesmo disse muita água a de rolar,graças a Deus ele nos permite um dia de cada vez