Amigos do peito
Durante meus dias internados tive muitos amigos do peito, era assim que chamava meus cateteres. Resolvi contar minhas experiências sobre eles, cada um tem sua particularidade, cada um com suas vantagens e desvantagens. Irei apresentando meus “amigos” por ordem das internações. Na minha visão como paciente é claro, nada técnico…
Esse foi meu primeiro, meio feio e me deixou bem roxo mas dizem ser bom. Apresento o PICC, apesar de ser no braço ele ia até la no meio do meu peito. Foi quase um mês usando ele, super tranquilo durante toda a internação e me evitou de levar várias furadas periféricas, confesso q na hora de tirar esses pontos a enfermeira não teve muita piedade não. O único problema que quando estava perto do fim da internação ele me deixou com muita dor no braço e fiquei sem conseguir move-lo por alguns dias tomando morfina. Disse o médico que não era normal sentir dores, mas senti e bendita morfina… O ruim tirando a dor era que sem mover o braço não conseguia tomar banho direito então tinha que pedir ajuda para as enfermeiras, no início tinha um pouco de vergonha e ficava embaraçado, mas isso a gente vai perdendo com o tempo
Esse…. ahhh… esse era minha Ferrari dos cateteres, Cateter de HICKMAN, um cateter de longa duração (anos). Usei para o meu primeiro TMO e fiquei com ele por 8 meses, quando tiraram ele de mim me senti indo para sala de parto, como se alguém fosse levar algo de mim. Tiveram que tirar porque peguei uma infecção no sangue e no cateter… Era uma maravilha, podia receber tudo em duas vias separadas. Sangue, plaqueta, soro, remédios. Só que o melhor de tudo é que ele é comprido então aquele exame chato e diário das 6 da manhã que sempre tinha que acordar para fazer com ele já não precisava mais. Deixava meu “rabinho” ja por cima de mim então a enfermeira nem precisava me tocar para colher exame nem para dar remédios, para o sono era a melhor coisa. Ele é maravilhoso para quem está internado. Porém para ficar em casa com ele é um saco, eu tinha que colocar aquele plástico grande em volta dele antes de todo o banho. Além disso tem o curativo de chg (fixador), se você transpira será seu problema (ele descola). Era o meu…
De alta, feliz que ia poder caminhar, fui no ambulatório trocar o curativo e resolvi caminhar com meu pai até o Pacaembu (15 min da minha casa e do hospital). Tudo bem que estava um sol razoável, mas quando cheguei em casa e tirei a camisa metade do curativo estava descolado então tive que voltar para o ambulatório para trocar, então aprendi “não posso suar”. Mas o calor de SP e do RJ são difíceis de aguentar, imagina para pedalar, exercitar, namorar? Só com ar condicionado…
Esse é o duplo lúmen, o fusquinha dos cateteres, mas pau para toda obra, de curta duração e ficava na subclavia. Foi o suficiente para o meu segundo TMO. Após retirei para colocar o próximo. Era um saco porque ele é curtinho, então o exame das 6 da manhã era um terrível, ainda mais quando ainda estava recente por causa da sensibilidade. A vantagem era que tinha 2 vias igual ao Hickman, então podia receber várias coisas juntas. Pedi para colocarem um “extensor” (Polifix) para dar mais cabo para eu conseguir dormir em paz mas não deixaram por risco de contaminação. Tentei alegar que sem o polifix ele entrava no meu sufaco toda hora e que ia contaminar lá mas não deu certo… Reclamei muito desse pois estava acostumado com minha Ferrari, mas no final acostumei.
Esse é meu atual, Port-A-Cach, para os íntimos “port”. Foi muito dolorido nos primeiros dias, muito mesmo, acho até que o mais dolorido de recuperar, nem tramal deu conta da dor. Mas nada que uma morfina não de conta 🙂 … Ele não é uma Ferrari pois só tem uma via só, então quando tenho que receber sangue ou plaqueta tenho que parar de tomar o que estava tomando para receber e o calibre dele é menor pelo que entendi. Internado tenho que trocar a agulha de 7 em 7 dias, mas é uma furada que geralmente não sinto. Pareço um peixe pois essa agulha eh tipo um anzol. Mas vamos para o lado bom dele, quando tenho alta não preciso de curativo, pois ele fica embaixo da pele (vou embora sem a agulha). Isso quer dizer que desde junho não tomava um banho sem ter que fazer curativo e nesses 3 dias de alta consegui tomar banho de gente rs. Agora posso também caminhar, exercitar, namorar, diz o médico que até tênis se quiser posso jogar. Só que infelizmente fiquei sabendo hoje que não pode piscina, praia, surfe e afins (essas coisas era melhor não saber, que não ficaria com peso consciência).
Tirando o Picc que foi anestesia local, todos os outros fiz no centro cirúrgico “apagado”. O duplo lúmen poderia ter sido feito com local também mas como já iriam me apagar para tirar o hickman mataram 2 coelhos numa cajadada só.
Eles que salvaram minhas pois após meu trauma do picc fiz 4 ciclos de quimioteria e vários antibióticos que detonaram minhas veias, ficaram duras. Só recuperei elas quase um ano depois. Hoje em dia já olham para o meu braço e dizem, que veia boa. Me sinto no meio de vampiros às vezes. Então eu falo “não precisa me furar não, tenho cateter”, sensação boa
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Dani, que gracinha de texto!!!
Fico imaginando quem está desesperado com esse monte de fios e furos, mas com essa explicação linda dá menos medo (essa Ferrari me assustou).
Não sei se você viu, mas vai ter coleta de sangue na exposição do Picasso no CCBB. Segue link:
https://catracalivre.com.br/geral/gentileza-urbana/indicacao/visitante-pode-doar-sangue-na-fila-de-mostra-sobre-picasso-em-sp/
Um beijo.. Já tô com saudades.
Uauuuu, a cada post eu tenho menos palavras para dizer. O que dizer sobre tudo o que vc relata com tanta serenidade e confianca? Nada! Eu so posso continuar me inspirando na sua forca, determinacao e fe. Muito obrigada por ser assim. Bj, fica com Deus e continuo na torcida e te “espiando” por aqui.