
D1735 Quem tem medo do escuro?
O que te assustava quando criança? Quando criança, todos tínhamos algo que nos assustava. Para minhas primas tenho certeza que era a múmia que meu pai imitava, mas pode ser a bruxa do 71 para o Chaves e sua turma ou as mil lendas que existem por aí. Um segredo que só os mais íntimos sabem e hoje vai deixar de ser segredo é que aos 34 anos ainda assisto vários desenhos. Quando digo vários é porque realmente são vários.
Se você tem filhos ou faz parte comigo da síndrome de Peter Pan talvez você já tenha visto “Monstros s.a”. E nele retrata bem o medo das crianças de abrir ou olhar embaixo da cama e ter algo desconhecido lá. A imaginação tem asas nessas horas.
Há praticamente 3 meses atrás recebi a notícia da mielodisplasia e o ar faltou. Aquele filme passando na cabeça novamente. Exatamente a mesma sensação do diagnóstico da primeira leucemia. Com o passar do tempo minha mochila vai enchendo de histórias e talvez isso que chamem de maturidade. Passamos a entender que não é da mielodisplasia ou da leucemia que temos medo, mas assim como as crianças ainda tememos o desconhecido.
Quando recebi a notícia da primeira leucemia, o choque foi bem avassalador mentalmente falando. Foram 2 dias praticamente isolado na UTI com milhões de coisas passando na cabeça, mas um pouco de paz veio quando minha médica disse que de leucemia eu não morreria e me explicou como seria.
Então tive a primeira recaída, 2ª leucemia, como uma bomba. Estava voltando a rotina de vida “normal”, só que dessa vez já estava mais preparado. Talvez por já estar esperando por ela. Sabia que a chance de uma recaída era muito grande. Não estou dizendo que foi fácil receber a notícia, mas foi bem menos impactante que na primeira vez. Já sabia até que se ela voltasse seria necessário o transplante de medula (TMO).
Daí a gente pensa: “é, acabou!”. E realmente para praticamente todo mundo com leucemia o TMO é a cura. E sem explicações a leucemia veio dar o ar da graça pela terceira vez. Estava morando em SP já com as malas prontas para passar o Natal no Rio em família. Só que ao invés de viajarmos para a casa, atravessamos a rua e levamos a mala para o hospital e internamos novamente.
Tentar entender o porque estava acontecendo novamente pós TMO, ver os planos e sonhos escapando novamente por entre os dedos e a dúvida do que seria feito assustaram. As vezes nos sentimos até cobaias nesses casos mais complicados. Foi então que após uma quimio, Dr Ricardo bateu o martelo e disse que iríamos para um 2º TMO. E sabíamos bem o que viria pela frente…
Quase 1600 dias após o TMO, confesso que já estava pensando na comemoração dos 5 anos em remissão, veio a mielodisplasia (que não é câncer). Não deu tempo nem de procurar no Google o que era e já estava internado novamente.
A dúvida sobre qual tratamento seguir devido a todo esse histórico aí voltou. E com essa mochila cheio de raridades até entendo o motivo da dúvida. Aquela sensação de ser cobaia voltou. E junto a ela as incertezas se existia algum bicho papão no armário ou embaixo da cama para acabar com meus planos.
Logo agora que a vida me trazia tantas coisas boas. Consegui ir para a Europa apresentar minha pesquisa. Virei padrinho da filha do meu melhor amigo. Meu irmão e esposa engravidaram. Estava na crista da onda da felicidade e a incerteza do que estava acontecendo me derrubou lá de cima.
E essa incerteza começou a dar asas para a imaginação do que estaria dentro do meu armário. Quanto tempo eu aguentaria sem minha medula produzindo sangue? Será que conseguiria ver minhas meninas crescerem? Terminar meu doutorado? E dei asas a imaginação do desconhecido novamente.
O primeiro e segundo ciclo de vidaza foram bem complicados devido a possíveis efeitos do medicamento. O 3º que terminou domingo agora sem internação me deu um pouco de esperança para voltar para a casa. Passar pela consulta com o Dr Ricardo e ver ele otimista e com resultados de exames bons afastou um pouco dessa insegurança toda. Sempre fui bastante realista. E ser realista com exames bons conseguimos até ser otimistas. Marina e Victoria que me aguardem…
É bem difícil receber o desconhecido de peito aberto, ainda não sou tão evoluído assim. Mudar radicalmente a vida requer muita coragem. Só que não ter como controlar essa mudança requer paciência demais para esperar alguém acender a luz para termos certeza de que não existe nada dentro do armário ou embaixo da cama.
A incerteza as vezes nos coloca uma venda de que a vida é exatamente assim, feita de mudanças que fogem do nosso controle. Cair da crista da onda faz parte, até porque nenhuma onda dura para sempre. O importante é levantar depois disso tudo. Saber que a vida é um dia após o outro, um ciclo de vidaza após o outro. Se algo aprendemos com toda essa bagagem é mudar e recomeçar. “Não haveriam borboletas se lagartas tivessem medo de mudanças”. Esses últimos exames e a confiança de todos acenderam não só uma luz no fim do túnel, o receio e a dúvida do desconhecido passaram. O último a sair do túnel apague a luz … “I will survive!”
Texto sem revisão rs, a foto é um slide da apresentação do meu caso pelo meu médico para outros médicos!
Queria a versão do cake, mas não tinha legenda em português… então segue a original…
Segue a que eu queria para quem não precisar da legenda…
Hey! Vai dar tudo certo!
Feliz com as novidades.
Sigo com você nas minhas orações
já deu rs! feliz ano novo!!!!
Vc é a prova de que a esperança e a vontade de seguir em frente são o combustível para Abrir as gavetas e Olhar embaixo da cama sem temer o que vai encontrar. Isso nós temos certeza pois o verdadeiro Guerreiro não abandona a luta jamais. E vc é aquele exemplo de pessoa que cada um de nós que te Amamos gostaria de ser. “Ripples Never Come Back” , vá sempre em frente meu Querido.
obrigado por tudo até hoje edu! vc é nosso pai da biologia!!
abraços e até esses dias!
Daniel, vc é inspiração é um vencedor! Força parceiro, Deus está contigo!
Obrigado zenilma! e feliz ano novo!